Por Amilcar Neves*
Bud, de nome William,
saiu de Vermont para visitar o filho que mora no Brasil.
Assim que soube que Nathan,
o filho em questão, namorava uma garota brasileira em Nova York, ele correu até
uma livraria de Middlebury à procura de títulos sobre o Brasil. Middlebury é a
cidade mais próxima da sua casa. À época, Bud e a mulher viviam literalmente no
mato. Haviam abdicado inclusive da energia elétrica. Na livraria, descobriu a
Amazônia e ficou fascinado pela imensa floresta tropical. Naquela livraria,
naquele momento, todo o Brasil resumia-se à Amazônia.
Bud leu o livro que
comprara e tudo o mais (pouca coisa) que conseguiu garimpar sobre a região. Sem
luz, não é muito o que se pode encontrar sobre qualquer assunto. As publicações
impressas acabam por se tornar a fonte exclusiva de informação e conhecimento.
Em sentido figurado, Bud mergulhou naqueles rios caudalosos, comparou as
árvores que via nas fotos com as que tinha na sua floresta, soube de alguns
bichos da mata e inteirou-se dos índios brasileiros, tão diversos dos
peles-vermelhas.
Então sucedeu que o filho
e a namorada casaram e partiram para o Brasil. Bud exultou: agora conheceria a
única coisa que sabia do país que recentemente descobrira: a Amazônia. Com os
dois morando no Brasil, qualquer que fosse o local escolhido, ao visitá-los ele
estaria praticamente ao lado da imponente floresta. Um dia ele descobriria que,
em extensão territorial contígua, o Brasil é maior do que os Estados Unidos,
que nos ultrapassa em área apenas pela ajuda substancial fornecida pelo Alasca.
O novel casal foi morar
em Feira de Santana, na Bahia, e Bud não veio visitá-lo. Mudou para João
Pessoa, na Paraíba, e Bud não foi até lá. Então, estabeleceu-se na Ilha de
Santa Catarina e Bud enfim apareceu. A Amazônia ficou longe (e cara) demais e Bud,
por seu turno, também se mudara para a cidade (no caso, a própria Middlebury) e
para a luz elétrica. Os tempos, pois, eram outros. Os interesses,
eventualmente, também.
Em Florianópolis, Bud encontrou
uma população pouco menor do que o total de todos os habitantes do seu Vermont,
que soma cerca de 625 mil almas (a maioria das quais cristã, sendo os católicos
o grupo religioso mais numeroso). Também encontrou muitas montanhas verdes na
Ilha, o que remete simultaneamente aos 77% de cobertura do território por
florestas e ao nome do estado, Vermont, batizado pelos primeiros colonizadores,
os franceses, com uma descrição: verts monts, ou seja, montes verdes.
Bud não haveria de passar
pelo Estado sem descer a Serra do Rio do Rastro, aventura estonteante que
efetivamente concretizou num dia de especiais clareza e transparência. Na Ilha,
não cansou de conhecer praias e comer frutos do mar, o que incluiu camarão ao
bafo e peixe com pirão. Como não poderia deixar de ser, saboreou um autêntico
churrasco gaúcho, passando pela indefectível caipirinha - mas apenas para
prová-la, pois seu domínio etílico não ultrapassa a cerveja e o vinho. Seu
sonho agora é aprender a usar a tarrafa. Outro dia, invejava a perícia de um
garoto de 12 anos tarrafeando na Lagoa e trazendo na rede, ali ao vivo, à sua
frente, peixes de verdade.
Mas o que mais o
encantou, sem dúvida, foi um local em que esteve por diversas vezes, inclusive
alcançando-o a pé pela trilha que leva até o Ponto 16, um dos atracadouros dos
barcos que ali fazem as vezes de ônibus: a Costa da Lagoa.
- Ainda vou comprar uma
casa aqui! - proclama maravilhado um Bud de 72 anos.
* Crônica publicada no jornal "Diário Catarinense" de 09.04.14
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