Por Denise Fernandes
E agora essa dificuldade para escrever, esse medo da
palavra. Ele disse: "Pense bem no que vai me dizer". Se é assim, fico
quieta. E não se cala só a boca, se cala a mão, se cala o pé. No silêncio sem
palavras. Porque sei que sou incapaz de pensar bem um assunto. Só consigo
pensar um pensar sem fim, cheio de perguntas, um pensar inacabado, que não é um
pensar bem, mas só um pensar e talvez repensar.
E simplesmente pensar no poder das palavras, no que
elas são – faca, perdão, razão, emoção. Alguns poucos pensamentos já me fazem
optar pelo silêncio. O silêncio garante que não vamos discutir nossa relação,
que teremos palavras mínimas, mas (como ele já percebeu) exatas. Contida, a sós,
com milhares de palavras passando dentro de mim sem que ninguém as conheça,
pisando com delicadeza o mesmo campo de brasas, sempre o mesmo, não há a mínima
possibilidade do entendimento. Esqueço o que tinha começado a fazer no meio,
fico ali: o que vim buscar no quarto? Devo desistir um pouco mais de tudo, me
esconder no íntimo, mais silencioso do que esse silêncio de palavras?
Mas é verdade que, sem a palavra, meus sentimentos e
emoções ficam mais livres. Água correndo livre, protegida de rótulos, de
palavras definidoras. Meus sentimentos ficam mais como são sem as palavras,
cores do mundo, flores do mundo, sentimentos do corpo, sensações, sensações
indizíveis, indefiníveis. Sem a palavra, a verdade é corpo. Sem pensar bem, vou
falar um pouco. Se ele também tem medo das palavras é porque sabe como elas
são.
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