sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Para dizer eu te amo

Por Mayanna Velame
 
 


O cigarro aceso continua depositado no cinzeiro de vidro. A garrafa de uísque, ainda lacrada, decora a pequena mesa de madeira no centro da sala. No sofá, meu corpo robusto permanece estendido e estático, feito um morto desamparado.

A penumbra esconde o semblante moribundo. De olhos bem abertos, porém baços, escuto os ponteiros do relógio que não param. Na corrida das horas, não há vencedor que não seja o próprio tempo. Ele rouba e nunca mais traz de volta os minutos passados.

Levanto-me lacônica, rastejando os pequeninos pés sobre o carpete persa (que comprei há três dias). Ele seria um presente, no entanto, meu maior presente me presenteou com seu silêncio.

Apresso os passos, ao lado da estante, uma cômoda abriga um jarro de flores, papéis, a carteira e o telefone. Como eu gostaria de ligar agora! Os dedos se aquecem e minha alma se envaidece de desejos. O aparelho diante de mim. As teclas reluzem, gesticulam, mas ninguém ouvirá a minha voz. O amor é desilusão, meu conflito diário...

Na verdade, o amor me agoniza. Se eu pudesse maltratá-lo, seria muito feliz. A vida não ganharia nem perderia nada. O amor nos esnoba, esse sentimento nos empobrece... Acossa-nos.

Farei o telefonema, preciso apenas de coragem. Retiro o fone do gancho. Ouço o sinal do outro lado da linha: sinal de solidão. Bruscamente aperto a primeira tecla...

Desisto...                                                                                        

“O amor nos esnoba, esse sentimento nos empobrece... Acossa-nos.”

Eu não tenho cura, não existe remédio para prevenir a dor que sinto agora. Mas que dor é essa? Dor que corrói a mente, os sonhos, os pecados.

Não insisto...

A madrugada surge, o telefonema foi somente uma tentativa fracassada de expressar o que nunca senti – o amor.

Volto para o sofá, recolho as pernas e descanso o queixo entre os joelhos erguidos. Preciso dormir para esquecer o meu eu. Fechar os olhos agora é enxergar tudo aquilo que o mundo não é para mim.

O telefone toca...

Subitamente, atendo à ligação. O silêncio conversa comigo:
 
– ...
– Alô!
 ...
– Alô! Pode falar...
– ...

Minha voz ecoa. Não sei exatamente quem me ouve agora. Não importa. A ligação termina, retorno ao sofá.

A noite se alonga lá fora e o mundo gira, junto com a solidão que cada um carrega dentro de si.

Nenhum comentário :

Postar um comentário