Por Mayanna Velame
O cigarro aceso
continua depositado no cinzeiro de vidro. A garrafa de uísque, ainda lacrada,
decora a pequena mesa de madeira no centro da sala. No sofá, meu corpo robusto
permanece estendido e estático, feito um morto desamparado.
A penumbra esconde o
semblante moribundo. De olhos bem abertos, porém baços, escuto os ponteiros do
relógio que não param. Na corrida das horas, não há vencedor que não seja o
próprio tempo. Ele rouba e nunca mais traz de volta os minutos passados.
Levanto-me lacônica,
rastejando os pequeninos pés sobre o carpete persa (que comprei há três dias).
Ele seria um presente, no entanto, meu maior presente me presenteou com seu
silêncio.
Apresso os passos, ao
lado da estante, uma cômoda abriga um jarro de flores, papéis, a carteira e o
telefone. Como eu gostaria de ligar agora! Os dedos se aquecem e minha alma se
envaidece de desejos. O aparelho diante de mim. As teclas reluzem, gesticulam,
mas ninguém ouvirá a minha voz. O amor é desilusão, meu conflito diário...
Na verdade, o amor me
agoniza. Se eu pudesse maltratá-lo, seria muito feliz. A vida não ganharia nem
perderia nada. O amor nos esnoba, esse sentimento nos empobrece... Acossa-nos.
Farei o telefonema,
preciso apenas de coragem. Retiro o fone do gancho. Ouço o sinal do outro lado da
linha: sinal de solidão. Bruscamente aperto a primeira tecla...
Desisto...
“O amor nos esnoba,
esse sentimento nos empobrece... Acossa-nos.”
Eu não tenho cura, não existe remédio para
prevenir a dor que sinto agora. Mas que dor é essa? Dor que corrói a mente, os
sonhos, os pecados.
Não
insisto...
A madrugada surge, o
telefonema foi somente uma tentativa fracassada de expressar o que nunca senti –
o amor.
Volto para o sofá,
recolho as pernas e descanso o queixo entre os joelhos erguidos. Preciso dormir
para esquecer o meu eu. Fechar os olhos agora é enxergar tudo aquilo que o
mundo não é para mim.
O
telefone toca...
Subitamente, atendo à
ligação. O silêncio conversa comigo:
– ...
– Alô!
– ...
– Alô! Pode falar...
– ...
Minha voz ecoa. Não sei
exatamente quem me ouve agora. Não importa. A ligação termina, retorno ao sofá.
A noite se alonga lá
fora e o mundo gira, junto com a solidão que cada um carrega dentro de si.
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