Por Mayanna Velame
Esses dias, enquanto arrumava
alguns papéis da prateleira, acabei reencontrando o poema de uma idosa poetisa
que me abordou em plena Avenida Paulista, na minha última passagem por São
Paulo. Com o corre-corre diário daquele lugar, só fui me atentar aos versos no
momento em que sentei para almoçar, num modesto botequim da Bela Vista. O assunto de sua singela poesia, escrita com letra
legível e tinta preta, foi justamente a Senhora Morte.
A sabedoria popular diz que “Para
morrer basta estar vivo”. Clarice Lispector, em sua expressiva sensibilidade,
ressaltou, em um de seus romances, a seguinte frase: “Sei que cada dia é um dia
roubado da morte”. A verdade é que a morte sempre foi, e assim será, um tema instigante
para todos nós.
Não sabemos o que acontece quando
damos o último suspiro. Esse é o grande mistério que cerca a humanidade. É por
isso que muitas crenças e suposições giram em torno do fim de nossas vidas. Há
pessoas que acreditam na vida eterna – da forma como postula o Cristianismo. Já
outros possuem a convicção de que a morte nada mais é que a falha geral dos órgãos
vitais e ponto final.
Teorias à parte, a morte é a
única certeza absoluta. Não somos seres imortais. Cedo ou tarde, seremos apenas
lembrança viva na memória de alguém. Nossas mãos não irão mais tocar os livros
que lemos. Nossos pés nunca mais pisarão as terras que conquistamos. E nossos
olhos não irão mais observar as mazelas e maravilhas do mundo. Além disso,
teremos que nos conformar com a ausência perene de pessoas que aprendemos a
amar.
Estamos todos destinados à morte
física. Creio que, enquanto houver fôlego de vida em cada um de nós, não
podemos deixar a chama do coração morrer. A vida é para ser vivida. Isso pode ecoar
como uma redundância. Mas será que estamos vivendo a vida com intensidade e
paixão?
Se existe vida, então vamos amar
nossos pais, vamos amar nossos irmãos, vamos tomar banho de chuva! Vamos olhar
para o céu estrelado. Vamos agradecer pela oportunidade, que nos surge todos os
dias, de sermos pessoas melhores.
A morte certamente nos espera. Pode ser numa
esquina, numa curva ou num deslize qualquer. E quando ela nos chamar (para essa
viagem sem volta), iremos com a sensação de que nossa vida, mesmo não sendo completa,
pelo menos foi vivida com perdão, coragem, esperança. E com o coração, sem o
remorso daquilo que poderia ter sido feito.
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