sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Necessidade de Viver

Por Mayanna Velame
 
 
Imagem: Domenico Ghirlandaio
 
Não faz muito tempo que, ministrando uma aula de poesia, deparei-me com alguns versos primorosos de Cecília Meireles:


“Não sejas o de hoje.
Não suspires por ontem...
não queiras ser o de amanhã.
Faze-te sem limites no tempo.
Vê a tua vida em todas as origens.
Em todas as existências.
Em todas as mortes.
E sabes que serás assim para sempre.
Não queiras marcar a tua passagem.
Ela prossegue:
É a passagem que se continua.
É a tua eternidade.
És tu”.

Fiquei a ponderar sobre suas palavras. E até que ponto eu poderia alcançá-las. Na minha pequenez, mais uma vez, observei o tema: a efemeridade da vida. E, de fato, a vida assim se faz. Tudo ao nosso redor é tão instantâneo, rápido, ligeiro, como riscos de trovão no céu.

Essa fugacidade, expressa nos versos de Cecília Meireles, parece nos trazer uma certeza: devemos aproveitar a vida com ímpeto e gozo – mas não com desespero. Devemos vivenciá-la com responsabilidade, e não com metodologias.

Talvez o maior erro do ser humano seja esse: viver em excesso as tribulações do presente, transformar seu passado em refúgio perfeito e idealizar o futuro como lugar seguro. Quando nos limitamos, deixamos as águas da felicidade e do aprendizado escorrerem entre os dedos. E o medo de tentar o novo, o desconhecido, acaba se resumindo em frustrações e traumas, companheiras para o resto da vida.

A necessidade de viver não pode se apagar dentro de nós. Muitas vezes, o fim da existência chega sem aviso prévio. Enquanto estamos aqui, saibamos contemplar a vida (com suas ausências e presenças).

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