Por
Mayanna Velame
Certa
vez, eu estava numa biblioteca pública distraída com um livro – melhores contos
da Literatura Brasileira. Debruçada sobre a mesa, não percebi que se aproximava
de mim, uma menina de mais ou menos seis anos de idade, corpo franzino, cabelos
e olhos claros.
Sem
receio, a garotinha começou a conversar comigo. Disse que gostava muito de
livros, até estranhei, para uma geração que já nasce do ventre da mãe sabendo
clicar e exigindo os tablets da vida.
Aquela
garotinha me parecia especial. Sem qualquer vestígio de timidez pueril, ela me
pediu um favor: queria um altas – sua leitura favorita. Não hesitei, deixei
Clarice Lispector, Machado de Assis, Osman Lins de lado e fui atender ao seu
pedido.
A
seção de geografia ficava depois de duas estantes. E a miniatura de gente, não
se intimidava com a muralha de livros que a rodeava. Quando retornamos à mesa,
ela abriu seu precioso livro. O atlas era bastante colorido, mapas muito bem
desenhados com suas legendas. Nas páginas seguintes havia um estudo completo e
ilustrado sobre as bandeiras de algumas nações.
Mas
o melhor de tudo mesmo foi no momento em que a menina folheou o mapa mundi. O
mundo inteiro estava em suas pequeninas mãos. O que uma criança faria se ela
tivesse o planeta em seu comando?
O
tempo seguiu e, durante alguns minutos, a minúscula cidadã permaneceu
hipnotizada, esquadrinhando, deslizando seus dedinhos sobre aquele mapa que
simbolizava o mundo e suas formas.
Quando
vi essa cena, pensei, o quanto esse mundo é grande, imensurável. Quantas vidas
estão perdidas, tristes ou alegres? Quantas línguas são pronunciadas a cada
minuto? Caberíamos todos no mundo ou é
ele que cabe em todos nós?
O
mapa da vida é dado a cada um. Percorremos espaços desconhecidos, alguns bem
delimitados, outros nem tanto. Navegamos em oceanos profundos e tenebrosos... A
geografia humana é assim – seus pontos cardeais nos levam a rumos que nos
colocam em rotas jamais imaginadas.
Não
sei bem o que se passava na mente daquela garotinha. O que ela pensava ou não,
pouco me importava. O bom mesmo era ver o seu deslumbramento e encantamento com
aquele atlas – livro que se tornou o seu melhor amigo naquele dia.
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