Por Denise Fernandes
Quando era pequena, minha
mãe dizia que eu tinha personalidade forte. Entendia que ela falava de algo
relacionado à minha vontade, mas acho que nunca entendi bem essa apreciação dela.
Não sei bem o que é essa personalidade forte. Será que a perdi por aí? Será que
alguém levou embora, sem querer, a minha personalidade forte?
Lembro que sentia uma alegria quando minha mãe
dizia que eu tinha essa personalidade forte. Agora: vejo um anúncio de guaraná,
saio para tomar um guaraná; vejo o vestido dourado da protagonista e desejo um
igual, logo dourado, essa cor "básica", "discreta". Se a
minha personalidade é forte, como posso ser subjugada por comerciais,
doutrinada por cores impossíveis? Tem dias que desejo um cabelo novo, um corpo
novo. Essa personalidade forte é que me mantém, embora acho que ela me atordoa
também.
Quando fico com muita
raiva, mando a pessoa que estiver na minha frente tomar no cu. Acho que isso é
uma das coisas que me faz parecer ter uma personalidade forte.
Misteriosa diante da minha
imensa fraqueza, a minha força é de menina. Força de brincar, de arrumar,
inventar e cuidar. Força de obedecer, calar, conversar com Deus e com a minha
mãe. Força de fazer crochê, copiar frases que ninguém lerá, sonhar e sonhar e
sonhar.
Se
o corpo é fraco, como a personalidade pode ser forte? Água, terra e intenção.
Acho que são minhas intenções que me fortalecem, me tiram do abismo, criam uma
outra realidade na mesma realidade. É dessa criação que vem a personalidade;
como ar, ela me invade. No céu cheio de tons de cinza, a inspiração e a
transpiração do Mundo...
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