Por Denise Fernandes
A esperança que não se deve ter é para essa que olho
agora. E assim desfaço a esperança que eu tinha de ser abraçada pelo meu pai.
Na sexta-feira quente,
minha afilhada fez aniversário. Seu pai canta para ela. Diz seu nome de
diversas formas, cantarolando, e ela se delicia toda. Olho o carinho que meu
compadre tem pela filha e sei que nunca terei um afeto assim para mim. Esperei
por anos um abraço, um carinho que nunca receberei. Destruir essa esperança me
liberta e mesmo que eu não saiba para que essa liberdade serve, melhor tê-la.
Fecho os olhos e ainda vejo a imagem: o pai brincando, a filha procurando seu
colo, seu abraço. Ele fala para ela sobre as muitas formas de abraçar. A filha
tem dois anos e seus olhinhos entendem tudo.
Meus olhos, já ligados há
vários anos, cada vez entendem menos. Esse abraço de pai que nunca terei, essa
possibilidade de apoio e afago que nunca experimentarei, essa falta de
generosidade em todos os sentidos que tem sido a marca registrada de meu pai. O
real é difícil e, às vezes, triste. Minha cachorra gosta mais de mim do que meu
pai. Sei que isso deve ser mais comum do que até imagino, mas é triste ter que
depender do apoio afetivo do seu cão para se sentir um pouco bem, trocando
afeto verdadeiro. A Joselita, como a grande maioria dos cachorros, não tem medo
de amar. Hoje ela tá quietinha, a bichinha. A indelicadeza da falta de amor do
meu pai atinge até a bichinha. Nesses dias, ela arranha mais sua casinha.
Esperança
é a Joselita, abanando o seu rabo bobamente. Esperança é ela entender meus
sentimentos e respeitar meus sentimentos. Esperança é quando ela se comunica em
latido com outros cães e me sinto segura com esse conversar canino. Esperança
tem de todas as cores, muitos tipos, e hoje eu me sinto mais aberta para todos
eles. Perdendo a esperança, eu a estou encontrando de outro modo. Outros
abraços virão. Já vejo as sementes desses abraços germinando.
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