terça-feira, 12 de março de 2013

Esperança

Por Denise Fernandes




A esperança que não se deve ter é para essa que olho agora. E assim desfaço a esperança que eu tinha de ser abraçada pelo meu pai.

        Na sexta-feira quente, minha afilhada fez aniversário. Seu pai canta para ela. Diz seu nome de diversas formas, cantarolando, e ela se delicia toda. Olho o carinho que meu compadre tem pela filha e sei que nunca terei um afeto assim para mim. Esperei por anos um abraço, um carinho que nunca receberei. Destruir essa esperança me liberta e mesmo que eu não saiba para que essa liberdade serve, melhor tê-la. Fecho os olhos e ainda vejo a imagem: o pai brincando, a filha procurando seu colo, seu abraço. Ele fala para ela sobre as muitas formas de abraçar. A filha tem dois anos e seus olhinhos entendem tudo.

        Meus olhos, já ligados há vários anos, cada vez entendem menos. Esse abraço de pai que nunca terei, essa possibilidade de apoio e afago que nunca experimentarei, essa falta de generosidade em todos os sentidos que tem sido a marca registrada de meu pai. O real é difícil e, às vezes, triste. Minha cachorra gosta mais de mim do que meu pai. Sei que isso deve ser mais comum do que até imagino, mas é triste ter que depender do apoio afetivo do seu cão para se sentir um pouco bem, trocando afeto verdadeiro. A Joselita, como a grande maioria dos cachorros, não tem medo de amar. Hoje ela tá quietinha, a bichinha. A indelicadeza da falta de amor do meu pai atinge até a bichinha. Nesses dias, ela arranha mais sua casinha.

        Esperança é a Joselita, abanando o seu rabo bobamente. Esperança é ela entender meus sentimentos e respeitar meus sentimentos. Esperança é quando ela se comunica em latido com outros cães e me sinto segura com esse conversar canino. Esperança tem de todas as cores, muitos tipos, e hoje eu me sinto mais aberta para todos eles. Perdendo a esperança, eu a estou encontrando de outro modo. Outros abraços virão. Já vejo as sementes desses abraços germinando.

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