Por
Flávia Marques
Num quarto escuro,
fruto de decisões erradas,
Samara chegou aos setenta e três
mal vividos anos.
A solidão doía como o remexer contínuo
de uma faca cega,
e o arrependimento
era a mão que a empurrava
estômago adentro.
Procurou por rostos amigos,
mas eles ficaram nas fotografias
na gaveta esquerda da cômoda,
junto aos outros pertences,
nos lugares tantos dos quais saía
abanando as mãos
orgulhosamente.
Não tinha medo, que até ele havia
abandonado-a.
Sabia o que viria a seguir
e desejou que fosse breve e indolor,
mas não foi.
Um por um
seus fantasmas compareceram
para o veredicto final,
e da boca de cada um deles ouviu
constrangida:
– Culpada! Completa e
indiscutivelmente culpada
pelo desperdício da vida!
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