Por Fabio Ramos
Xilogravura de J. Borges |
Outro assunto não saía
Da boca dos matutos,
Que ouviram de Seu Maia
O maior dos absurdos:
– Estejam preparados
Para o fim do mundo!
A profecia anunciada
Causou muito furdunço
Entre toda a cabroeira
Temerosa com o futuro;
Chegando a assustar
O mais valente dos jagunços.
Em dois mil e doze
Não vai sobrar nada:
No dia 21 de dezembro
O mundo se acaba!
É o apocalipse final
Vindo com hora marcada.
Nenhuma possibilidade
Está fora de cogitação.
E não existe vivalma
Que desfaça a confusão.
O velho apenas mencionava
A polvorosa no sertão.
Alguns acham que termina
Em chuva de meteoro.
No sopro do tufão,
Tsunami ou terremoto.
Se for larva incandescente,
Não vai ter sobrevivente.
Veja a minha comadre,
Refugiada na igreja:
Reza junto com o padre
A ladainha, a penitência.
Pede a deus misericórdia
E um pouco de clemência.
Os mais jovens, abraçados,
Querem mesmo é rosetar:
Passam o dia na cama,
Trepando sem parar.
Estão livres do enrosco
Se a mulher engravidar.
Não deposito confiança
Nessa gente futriqueira,
Despejando inventices
Pela cidade inteira.
À procura de ouvidos
Pra encher com besteira.
Mas sendo verdade
Que é chegado o fim,
Vou tomar pinga fiado
Na bodega do Joaquim.
Ele vai me perdoar
Se eu beber até cair.
Vale reclamar agora
Se não cumpriu o destino?
Tanto tempo perdido
Insistindo em descaminho.
Só resta lamentar
E esperar pelo juízo.
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