Por Kátia Mota
Eu nunca gostei muito de gatos, creio que a independencia deles me agride um pouco. Então decidi: nunca terei gatos...
E lá estava aquele... um dia apareceu em cima do muro e lá ficou com seu passo lento e calculado... me olhando, de longe. Petulância.
No outro dia, o desgramado estava dormindo no capacho da porta de entrada e não ousou se mexer quando me aproximei, só me restou pulá-lo, tenho coração, deixei lá, era tão quieto.
No terceiro dia ele miou. Saltou do muro. Se enroscou entre minhas pernas, deslizou os pêlos macios por entre os tornozelos. Sedutor. Confesso deixei à porta uma fresta. Não sou culpada por ele entrar, entrou por conta.
E sento no sofá o gato se aninha no colo, o tamanho exato do corpo leve. É quente. Ele se agrada disso eu sei. Me peguei lendo em voz alta esses dias e entre palavra e outra, minha mão alisava o seu arfar lento e barulhento. Me ouvia como outra voz dita.
Esses dias estava tomando café, assim, de um salto alcançou a mesa e me encarou, me olhou nos olhos. Tive medo. Do amarelo dos seus olhos. Não, tive medo do verde dos seus olhos. Não, eu tive medo do mar revolto dos seus olhos. Eu tive medo.
Na minha cama ele me segue. Se aninha na dobra dos meus joelhos. É quente, então deixo, as vezes me apalpa e deita no ventre. É quente então eu deixo.
O gato não tem dono. A independencia dele me agride um pouco, não depende de mim. Eu tenho medo; Da cama vazia.
Kátia Mota: A incognita me define melhor. Gosto de escrever. Gosto do universo ficcional.
Estudante de Letras.
Escrevo no Katia em anexo.
Kátia: sempre, as entrelinhas.
ResponderExcluirFernando... sabe o quanto gosto do entredito...
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