sábado, 25 de fevereiro de 2012

O Consumista de Afetos - Parte 2 de 2


                                                   Por Flávia Marques

Aquela moça só poderia ter saído de algum sonho do qual Santiago não se lembrava. Cada palavra que saía de sua pequena boca carnuda parecia posta ali por ele próprio. Foi curioso que atendeu ao convite, mas havia uma certa insegurança em suas ações. Afinal de contas, quem seria essa desconhecida?!  Em pouco mais de meia hora de caminhada, chegaram ao hotel onde Santiago mantinha um quarto alugado. A fachada francesa e a rua vazia davam uma impressão ainda mais estranha àquele encontro, como se a qualquer momento algo surpreendente fosse acontecer. O clima de improbabilidade e mistério só fez aumentar o desejo de Santiago por conhecer melhor aquela ruiva irresponsável que fez com que ele sentisse, pela primeira vez, a pontada do amor no coração. Enquanto a moça subia as escadas segurando os sapatos e deixando à mostra os pezinhos delicados, ligados as pernas pelos tornozelos mais lindos que Santiago já havia visto. O rapaz pensava na sorte grande que o alcançara aquele dia e na sincera vontade de perpetuá-lo indefinidamente. Tinha certeza de que encontrara a mulher ideal para dividir seus planos de um futuro promissor e audacioso. Veneranda seria seu cartão de visitas para a sociedade que não o aceitava com simpatia; não por ser um novo rico, mas porque sua herança provinha de uma união condenada por todos entre sua mãe e um conhecido juiz para quem ela trabalhava. A beleza europeia daquela moça misteriosa calaria os mais ferozes críticos defensores da moral vigente. Estava decidido.
Veneranda e Santiago passaram a noite em descobertas mútuas. Realizaram todas as brincadeiras possíveis, conhecidas e inventadas, juraram amor eterno e fizeram planos para o futuro glorioso que teriam juntos. Quando o dia já amanhecia, Santiago fez o pedido de casamento; que foi aceito imediatamente.
Ao deixar, porém, o hotel, homens vestidos de branco seguraram os braços da menina ainda na calçada e a empurraram para a ambulância estacionada em frente, dando-lhe injeções para que ela parasse de gritar. Santiago, em desespero, tentou livrá-la de seus sequestradores, mas foi inútil. Foi imobilizado tal qual Veneranda, mas acalmou-se antes de ser sedado e pediu explicações. Os enfermeiros informaram ao moço que ele correra grave perigo aquela noite, pois Veneranda era louca de hospício e, sempre que conseguia fugir, fazia vítimas entre os homens que atraía para o amor. Aquela revelação foi para Santiago um golpe duro demais e o rapaz caiu sentado na calçada com a mão ao peito. Mas antes de desmaiar pelo medicamento recebido, Veneranda olhou para o amante relâmpago e revelou:
- Não pude te dar o mesmo fim, pois a semelhança entre nós me fez ser sincera desta vez. Acredite-me, fostes meu primeiro amor.

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