terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

Março

                        Por Denise Fernandes

         Em março de mil novecentos e oitenta e cinco
         escrevi na minha máquina de escrever:

         Beatriz

         O sol solto, acaso
         Conhecer você me fez mais feliz
         andarei por aí
         colhendo o que achar melhor para nós
         escolhendo os poentes
         e os poemas,
         entre os pentes.

         A nossa roda da fortuna é grande
         o meu carinho, o meu suor
         é poder e mato
         é no teu cheiro e no teu olhar
         que eu corro

         longe-perto de você, pode?

         tenho uma mão, mas você tem duas
         Beatriz
         os devaneios são sementes
         creio tanto nisso
         como em você, nos raios de sol
         e nas luzes amarelas da tarde,
         vermelhas da noite

         O papel está amarelo e Beatriz
         que era um bebê recém-nascido
         escreve; quando ela escreve
         não temo. Ela tem o mesmo olhar
         de quando nasceu. O mistério está
         intacto. A semente sempre será semente.
         Há uma música nova a ser escrita.
         Se eu não estivesse escrito março
         de mil novecentos e oitenta e cinco
         jamais entenderia.

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