Domingo à tarde
Tarde duvidosa
Triste diamante:
turmalina turquesa,
Linda. Ainda ontem
Telefonei para ti.
Tento. Entretenho-me no teu destino,
Nos teus dentes. Deitada no teu peito
Desapareço, desaperto-me: pertenço a ti.
Distraio-me na tua dor, nos teus cotovelos,
Nos teus tornozelos. Dou-me no teu ventre,
Toda tua. Mas desapareço. Entre dores e apertos
Nada de ti permanece doce. Ausente,
Invento-me outra, derreto-me.
Desapareço. Traio-te.
Dá-me tua traição também.
Dá me o gosto esquerdo,
Tamanho e lento,
Distante e dissonante,
Tarde demais,
Demais triste.
Mas derrisório
Terminando rápido a tristeza triste,
Como um gato se perdendo no mundo.
Doidamente, diabolicamente;
Traio-te dizendo
O que deveria ser segredo;
Traio-te azedando o que poderia ser adocicado,
Traio-te magoada e
Ainda te traio
Quando estou triste.
Defendo-me.
Desisto.
Divido-me em duas ou três
Amantes diferentes
E não me tens nas três.
Traduzo-te em três idiomas
E não te entendo.
Temo tuas dúvidas.
Domingo à tarde,
Tarde demais,
Distante, presente e ausente,
Silente. Saudoso, dormente.
Deus.
Tava faltando Deus.
Pra história andar.
Domingo à tarde,
Tola e divina,
Hipnotizada e telepática
Alucinada em outras mentes,
Atriz.
Decido-me, desisto e insisto.
Parto deixando
Meus dedos nas tuas costas,
Meus dedos em saudades.
Dramáticas. Diretas e lânguidas.
Desenho no teu ódio
Outra ferida aberta.
Adio a felicidade
A aposentadoria
A idade certa.
Adio a sanidade
A maldade,
Ai de ti.
Adio a despedida
Num dia tão intenso
Que perdida de mim
E de ti, adoeço.
Dá-me teu perdão
E parte.
Tua parte neste resto
Neste deserto é
Só o vento da tarde,
Só a saudade.
Dá-me a saudade em doses
Delicadas.
Dá-me outra trama,
Outros tons,
Renova-te em desejos
Onde não estou.
Estreia outros trajes,
Outro penteado,
Desiste de ti.
Tenta outro jeito
De te Ter,
De reter os pedaços
Do passado.
Tira meus dedos das tuas costas:
Grudados como estrelas
São diamantes da tua terra,
Desencrava-me,
Desarma-me.
Destrói-me.
Sou um caderno de
Recordações.
Sou um dentro, tão dentro
Que dentro de mim
Não entenderias.
Domingo à tarde,
Deixa-me.
Que deixo me deixares.
Deita-me quieta,
Aquieta-me na teia
Da Terra. É este planeta
Que me tateia
E me deseja.
É teu toque que me diz:
Talvez.
Talvez um dia, uma tarde,
Talvez outro dia.
Mas o tempo não reparte a dor
Não divide o desejo:
Dá-me tudo.
Entenda-me.
Acerte.
Aceite:
Este Domingo de traição
De trauma,
É só um dia,
Um tempo
No infinito.
Uma tragada,
Uma adivinhação,
Uma noitada.
E outra tragada.
Adeus.
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