terça-feira, 18 de agosto de 2020

O louco

Por Denise Fernandes




O voo. Voando, esqueço o que quero esquecer. Outra janela do pensamento se abre. Imaginação criativa. Perdoo porque já não me importa mais. Ou choro porque chorar alivia. O mais importante é voar. Não é o skate que voa, sou eu.

Minha cachorra me diz, através dos latidos, um longo poema de amor. Traduzo em palavras, que me consolam de tantos abandonos. Ela me lambe como se eu fosse sua irmã. E eu, que sou um animal ferido, me enrosco no seu pelo de irmã. Temos o mesmo sangue vira-lata. Choro a morte das florestas. E as florestas me abraçam.

Se eu fosse normal, não teria graça. Sou feito de vento. Desfiz as maldições. Descer a montanha foi melhor que subir. Desistir foi melhor que continuar. Enquanto mergulho no ar, caminho para o novo.

Desigual. Racional e irracional. Inocente e selvagem. Guerreiro sem armas. O que tenho é meu skate. Que quebra e se regenera, rabo de lagartixa.

Meu romantismo foi pior que um vício. Cansaço de lutar contra Deus. Preciso deixar Deus em paz, para ter paz. O destino é como o atrito para o meu skate. É para o destino que minha cachorra late quando late sem motivo algum. É o Senhor Destino que afia seus sentidos de animal. Quando parece louca, ela também parece feliz.

E eu, quando me sinto feliz, toco a loucura. Através da loucura, encontro o estado de graça. E lembro que estamos salvos. Não falta nenhuma peça no quebra-cabeça.

Mesmo assim, mergulho no desespero, na insatisfação. Vontade de mudar de trilha sonora. O som do meu skate me conforta.

Nenhum comentário :

Postar um comentário