sábado, 22 de agosto de 2020

O eu dividido

Por Meriam Lazaro




À sombra dos parreirais
Encontraram-se vários eus
A fim de convencionar
Quem mandava mais.
O Eu Pavão se apresentou
E seu rabo radioso abriu
Dizendo ser o maioral.
O Eu Jaburu se escondeu,
Para demonstrar timidez,
Rindo de seu pé lindo.
Aí veio o eu da vez,
Mostrou sua inteligência,
Exigindo cega obediência.
Mas, lhe perguntaram:
- Quem és tu, lerda criatura,
Para querer impor respeito?
- Sou aquele que rima,
Escolhe os ditados
E o efeito causado.
- Meu nome é Eu Virtual.
Como ninguém jamais vira
Ego de tamanho igual
Calaram-se a esperar
O Eu Sensatez falar.
Este chegou e calmamente
Falou: - Todos podem reinar
Em pequenos bocados
Sem que a ninguém seja dado
Ao Eu Amoroso superar,
Pois é o de maior predicado.
E assim, sob os parreirais,
Ficou convencionado
Que seria obedecido
Unicamente ao Eu Amoroso.
Terminada a cerimônia
Foram tomar Gardenal,
Antes que ao plantão chegasse
O rancoroso doutor do mal.
Eus lavados, afinal.

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