Por Meriam
Lazaro
Juízo é o que
não nos falta. Fazemos juízo de valor sobre tudo, a todo o momento.
Este ano, por
ocasião do relançamento de “Mein Kampf” (“Minha Luta”, em português), houve
muita discussão sobre o mal que um livro pode causar. A discussão foi além do
conteúdo, alcançando a forma utilizada pelas editoras no Brasil para divulgação
comercial da obra, cujo autor – morto há 70 anos – é nada mais nada menos que
Adolf Hitler.
Pelo que pude
observar das discussões, contra a propaganda maciça da obra, havia a
preocupação com a falta de experiência de leitura de pessoas mais jovens e,
portanto, mais influenciáveis, assim como o momento de instabilidade política
no país. Contra a proibição da publicação, levantou-se a bandeira da liberdade
de imprensa.
Os argumentos de
ambas as partes são sustentáveis. De um lado, temos a capacidade de
convencimento de Hitler, que induziu milhares de pessoas de que era justo não
só a morte, como o massacre de milhares de outras. Isso tudo sem televisão ou
internet! Convence, também, o argumento da liberdade de expressão que todos
temos, em igual medida, ou deveríamos ter.
Minha surpresa
maior com os debates foi constatar que aquelas pessoas não haviam lido nem
tentado ler a obra “Mein Kampf”, que está disponível para baixar gratuitamente
na internet. Aí, me indaguei: quanta presunção de malignidade é válida nesse
caso; em que somos conhecedores da terrível História?
Se pensar é
livre, a manifestação de nossas opiniões carece de cuidados para não ferir.
Citando outra obra do período do holocausto (esta, sim, no melhor sentido da
transformação do pensamento), o psicólogo Viktor Frankl narra os anos vividos
nos campos de concentração nazistas e o que pode apreender psicologicamente da
experiência, em sua obra autobiográfica “Em busca de sentido”. Para Frankl,
mesmo para os salvadores da pátria, a Estátua da Liberdade requer uma Estátua
da Responsabilidade.
Quem frequenta as redes sociais, verifica – junto
com o bombardeio de informações – que todos julgam a todos; transformando os
meios de comunicação num gigantesco tribunal. Até há quem bata o martelo para
os julgadores profissionais. Assim, juízo não é o que nos falta.
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