sábado, 26 de março de 2016

Falta de juízo, eu?!

Por Meriam Lazaro




Juízo é o que não nos falta. Fazemos juízo de valor sobre tudo, a todo o momento.


Este ano, por ocasião do relançamento de “Mein Kampf” (“Minha Luta”, em português), houve muita discussão sobre o mal que um livro pode causar. A discussão foi além do conteúdo, alcançando a forma utilizada pelas editoras no Brasil para divulgação comercial da obra, cujo autor – morto há 70 anos – é nada mais nada menos que Adolf Hitler.


Pelo que pude observar das discussões, contra a propaganda maciça da obra, havia a preocupação com a falta de experiência de leitura de pessoas mais jovens e, portanto, mais influenciáveis, assim como o momento de instabilidade política no país. Contra a proibição da publicação, levantou-se a bandeira da liberdade de imprensa.


Os argumentos de ambas as partes são sustentáveis. De um lado, temos a capacidade de convencimento de Hitler, que induziu milhares de pessoas de que era justo não só a morte, como o massacre de milhares de outras. Isso tudo sem televisão ou internet! Convence, também, o argumento da liberdade de expressão que todos temos, em igual medida, ou deveríamos ter.


Minha surpresa maior com os debates foi constatar que aquelas pessoas não haviam lido nem tentado ler a obra “Mein Kampf”, que está disponível para baixar gratuitamente na internet. Aí, me indaguei: quanta presunção de malignidade é válida nesse caso; em que somos conhecedores da terrível História?


Se pensar é livre, a manifestação de nossas opiniões carece de cuidados para não ferir. Citando outra obra do período do holocausto (esta, sim, no melhor sentido da transformação do pensamento), o psicólogo Viktor Frankl narra os anos vividos nos campos de concentração nazistas e o que pode apreender psicologicamente da experiência, em sua obra autobiográfica “Em busca de sentido”. Para Frankl, mesmo para os salvadores da pátria, a Estátua da Liberdade requer uma Estátua da Responsabilidade.


Quem frequenta as redes sociais, verifica – junto com o bombardeio de informações – que todos julgam a todos; transformando os meios de comunicação num gigantesco tribunal. Até há quem bata o martelo para os julgadores profissionais. Assim, juízo não é o que nos falta.

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