Por Oswaldo Antônio Begiato
Eu poderia vir aqui
e olhando dentro da tua
inusitada alma
dizer que você é mais
bonita
do que o avental pintado
à mão
que minha mãe colocava
aos domingos,
quando se preparava para
fazer o nosso almoço,
em frente ao fogão à
lenha.
Foi minha primeira visão
de suavidade!
Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de tuas
meiguices raras
dizer que você é mais
bonita
do que a gravata
borboleta azul marinho
que meu pai, orgulhoso
de sua fé
e orgulhoso da fé que
imaginou que eu tivesse,
enfeitou meu pescoço
quando fiz a primeira
comunhão.
Foi minha primeira visão
de santidade!
Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de teus
lugares ocultos
dizer que você é mais
bonita
do que a doída canção
“Santa Lucia”
que meu avô ouvia sua
gente cantar nos casamentos
e chorava e soluçava e
se lembrava da Itália
de onde tinha partido
muito moço com o coração partido.
Foi minha primeira visão
de saudade!
Eu poderia vir aqui
e olhando dentro de teus
olhos rimados
dizer que você é mais
bonita
do que o soneto de
Vinícius de Moraes
com que minha primeira
namorada,
equivocadamente
apaixonada,
fez a dedicatória no
livro que me deu de presente,
quando demos o nosso
primeiro beijo.
Foi minha primeira visão
de eternidade!
Mas escolhi dizer:
– Você é linda!
Puramente.
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