sábado, 2 de maio de 2015

Preciso tomar jeito

Por Meriam Lazaro




Já haviam me alertado: cuide bem de tudo, guarde as fotografias, faça uma cópia de todas as cartas, segredos da vida a dois etc. Mas eu fiz? Nem estava aí. Estava feliz. E o Fred, além de tudo, era meu amigo mais íntimo. Sabia tudo que eu lhe contara com dedos trêmulos e voz melosa. Outras vezes, falava aos gritos, mas sempre lhe confessava os sentimentos, as dúvidas, os sonhos. Tudo que se pode contar a alguém. Ou, filosoficamente, quase tudo...


Estávamos juntos há algum tempo. Sempre nos encontrávamos após o trabalho. Ele, já arrumado, pronto para a balada, me esperando em casa. Ficávamos juntos durante o final de semana, feriados, madrugadas a fio jogando conversa fora. Isto quando eu não estava muito cansada. Nestas ocasiões, ficávamos apenas ouvindo as músicas mais variadas. Desde MPB, Pink Floyd, Led Zeppelin, clássicos de todos os tempos, tambores de Minas ou simplesmente curtindo um bom filme.


Quem diria que uma relação de amor poderia se apagar de uma hora para a outra. Depois que o Fred foi internado, me disseram que três anos já é considerado muito tempo. Fred dera sinal de sua instabilidade – e eu não havia atentado para a efemeridade da vida. Que neste mundo, mais cedo ou mais tarde, tudo passa. O especialista falou, sem nenhum preparo do coração, que meu amigo já estava ultrapassado. Seria melhor eu substituí-lo. É o que farei quando me recuperar do choque.


Foi assim que perdi todos os dados que guardava de nossa vida em comum: poesias, textos, documentos, fotografias, músicas, programas etc. Fred tivera perda total por queimadura do HD (seja lá que bicho for). Quando o assunto é computador, preciso tomar jeito e fazer backup de todos os arquivos.

Nenhum comentário :

Postar um comentário