sábado, 23 de maio de 2015

Comer, beber e rir de doer

Por Meriam Lazaro


Imagem: Jasper Johns


Há prazeres da vida que chegam a doer. Para o primo Ri, consiste naquele riso desavergonhado e, não raro, sem motivo lógico para os demais. Começa com primo Ri rindo sozinho, e os outros com riso de gomodelaranja. Sabem aquele riso sem vontade de rir? Pois bem, este é o riso gomodelaranja, conhecido ainda por riso amarelo; do tipo que não entendemos porque o sujeito quase morre de rir.


O primo Ri, que ri porque o tomate foi atravessar a rua e veio caminhão e fez “ploft!”, agora, já dobrado ao meio, agachado ou encostado a uma parede, ri das caras de desentendimento. Como esse riso de doer é contagiante, os desentendidos também passam a rir (embora não saibam o motivo). Pensam que riem do primo Ri – o bobo da vez.


Nem sempre primo Ri é o que ri primeiro. Não porque ri melhor quem ri por último, mas porque, algumas vezes, o riso precisa ser evocado lá da alma. Como aquele riso das ilustrações do livro de inglês, que contagiou a todos. A professora pediu ao primo Ri que saísse da sala. Ele saiu, mas levando o livro. Lá fora, os balões de diálogo não eram mais tão engraçados.


Para alguns, um fato provoca esse estribilho gaiato. Para outros, tal reação parece um acesso de loucura. Por que isso acontece? Não importa. Para rir de doer, não é preciso razão. Basta muita alegria.

Nenhum comentário :

Postar um comentário