sábado, 16 de maio de 2015

E foi assim que a briga começou

Por Meriam Lazaro




Há algum tempo, noto que as pessoas me convidam para uma boquinha e depois me deixam na mão. Uma amiga libriana, por exemplo, exigiu a minha presença em seu aniversário. Tudo se daria numa churrascaria. Três horas antes do combinado, o telefone toca. E era ela, pedindo desculpas... Graças ao temporal na fronteira com o Uruguai, 500 quilômetros distante daqui, não teria mais churrascada.


Da penúltima vez, a comemoração era o aniversário de sua mãe (que amarelou com o frio daquela noite). A confraternização seria numa pizzaria. Encontros em cafeterias, meus preferidos, são marcados e desmarcados com surpreendente ligeireza.


No último domingo, outra amiga ligou em casa, me convidando para almoçar no shopping. Com o nome do restaurante em mãos, lá fui eu, certa que me daria bem com as iguarias finas. Cheguei primeiro e fiquei dando voltinhas pela praça de alimentação. Logo em seguida, ela aparece, também libriana, toda sorridente e saltitante, dizendo que tinha pensado em outra coisa. Que tal se nós fôssemos a uma churrascaria próxima dali?


Considerando que eu recém saíra de uma crise na vesícula, não estava muito a fim de churrasco. Pesei os prós e os contras, e lá fomos nós. Ainda poderia optar pelo buffet livre, sem precisar me empanturrar de carne. Como sou de fácil contentamento, me servi de arroz, feijão, tomate e um pedaço de carne magra. Faltou o ovo frito
coisa que já não me pertence mais , bem como a Coca-Cola. Acontece que o feijão estava puro sal. Valeu pela apresentação de dança da terrinha, o que é sempre um bom espetáculo.


Ao sairmos do local, uma surpresa. Sabe o que a perversa fez? Convidou-me para vermos, na vitrine do restaurante, quais eram os pratos do dia. Só para saber as delícias que eu tinha perdido. Puro sadismo.


Com todos esses indicativos famélicos, saquei que o universo dava o pontapé inicial em meu regime. Decidida a algumas concessões (e a viver de luz o máximo possível), fui à procura da boa forma. Estava escrito em um dos programas alimentares: “Nunca deixe de comer a sua sobremesa”.


Juro pelo sagrado chocolate – a sobremesa indicada – que essa era a sugestão. Logo, se estava escrito, era lei. Uma lei deve ser cumprida fielmente. Havia outras recomendações, é claro, mas quem se importa com detalhes?!


Escolhido o programa alimentar, repleto de boas intenções (especialmente pela manhã, ao acordar), bastava segui-lo. Para fazer efeito mais rápido, optei por não jantar. Comer uma miserável barrinha de cereais às 17 horas e, depois, somente água ou chá sem açúcar. Olhar na televisão aquelas propagandas de pizza calabresa, sorvetes com calda escorrendo, famílias felizes no supermercado... Nem pensar! Fui cedo para a cama por duas noites seguidas.


E foi assim que a briga começou. Na terceira noite, 200 gramas a menos, dor de cabeça a mais, autopiedade a milhão, me vi num pesadelo sem precedentes na história das dietas. Eis que um peito de frango gigantesco invadiu a Terra; causando maremoto e derrubando edifícios. Parecendo ter tomado todas, ele me perguntou:


Sabe por que o frango atravessou a estrada?

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