sábado, 9 de maio de 2015

Para ser telúrica

Por Meriam Lazaro




Em tempos de amor pela Terra, encontro pessoas desfraldando a bandeira do naturalismo, o que é maravilhoso. Também vejo muita contradição entre discurso e ação (o que é parte do ser humano).


Começo pela mais recente, que me chocou e inspirou este arremedo de crônica. Uma amiga vegetariana, que busca iluminação através dos mestres ascencionados – aquela turma do Saint Germain e da vela roxa –, mostrou-me, bem feliz, duas aquisições: estolas de pele de coelho, para usar no inverno.


Outra amiga, também cuidadosa com a saúde, não admite se alimentar com nada aquecido em micro-ondas. Mesmo não tendo um aparelho desses, ela sonha em destruir tal parafernália cancerígena (e demoníaca) com um machado. Talvez ainda não a informaram que o cigarro é um dos maiores causadores de câncer; pois ela fuma vários “hollywoods” por dia.


Esta que vos escreve – atualmente na fase da soja – só usava leite desnatado em um de seus inúmeros regimes. Mas comprava nata para passar no pão.


O próprio Freud (que sistematizou a psicanálise através da fala), fumante inveterado, morreu com câncer na boca e, segundo dizem os biógrafos, devido a uma dose letal de substância química, ministrada por ele mesmo. O que em nada diminui seu mérito.


E, assim, vamos levando nossas contradições. Se não aprendemos a ser mais coerentes, quem sabe nos tornamos um pouco mais humildes. Ou, ainda, substituímos as manias. O que pretendo afirmar? Que tudo está certo, que integra a cadeia evolutiva, mas que nem sempre percebemos isso. Mais fácil, sem dúvida, é notar as contradições no semelhante – o espelho à nossa frente.


Eis a função do outro, como há muito já foi dito: refletir nosso próprio retoque e refinamento.

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