terça-feira, 10 de setembro de 2013

Rarefeita

Por Denise Fernandes
 
 
As amoreiras estão carregadas. Para o sabiá, já é primavera.

F. me escreveu que não entendia quando eu escrevia amor com letra minúscula. Era diferente de qual forma do Amor com letra maiúscula? Bem que eu preferia uma dúvida mais fácil, é sempre uma pretensão falar do amor e do Amor. Misturados nas teias dos acontecimentos, é impossível pensar no Amor sem pensar no amor. Para alguns é mais fácil sentir apenas o amor, o “a” maiúsculo pressupõe um crescimento mesmo no amor que é inacessível para muitos. Para alguns é difícil o minúsculo, pessoas que voam, pessoas que querem voar e apenas Amar. O amor e o Amor não são tão diferentes. Essa diferença numa letra é uma certa diferença de qualidade, mas é como se os tipos diferentes de amor fossem tipos diferentes de manga, ou tipos de rosas.

         E. C. me lembrou num e-mail da angústia necessária. Essa companheira de sempre, que me leva a pensar, pensar.

         Nostalgia, lembranças. L. me disse que falo muito do meu passado, estou sempre me apoiando nas minhas memórias.

         Fico quieta, mas não conheço lugar melhor para eu me apoiar do que naquilo que já foi e que está sedimentado dentro de mim. Além do meu nome, sou minha história, sou também esse silêncio para não me explicar, esses sentimentos. Sinto saudades.

         “Saudade começa a caber dentro do mar, depois o Oceano transborda.” Escreveu com luz C. L. em seu livro “Rarefeito”. Estou rarefeita, transparente, menos marítima que C. L., meu nome na terra, minha procura, meu amor cheio de Amor.

         Também sou denise e Denise, há um lado de substantivo comum jogada no mundo quando escutam denise, já sabem quem sou, mesmo eu-mesma não sabendo. E mesmo quando estou no mundo sem que nada me distinga, tenho dois nomes marcados dentro de mim, denise e Denise. Esses nomes levo em segredo enquanto caminho. Sinto que há neles uma força, mas viver sem nome também seria possível. Só não quero viver sem Amor. Ou sem primavera.

         A quaresmeira florida que é minha e de C. L. brilha. O mar se repete. Sinto amor e Amor.
 

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