sexta-feira, 13 de setembro de 2013

Estela

Por Mayanna Velame

 

Não que ela fosse feliz. Apenas tentava fingir ser companheira da felicidade. Na padaria, contemplava os atendentes com um sorriso aberto e ângulos perfeitos. Seu bom-dia ecoava como sinfonia singular nos ouvidos de quem o ouvia.

No ônibus, durante o trajeto para o trabalho, cedia seu assento para pessoas mais idosas. Gostava de ser gentil, delicada e amável. No entanto, o que mais apreciava eram os elogios recebidos por sua bondade.

Quando estava no escritório, deixava a mesa muito bem organizada. E nas reuniões, exibia suas ideias com bastante coerência e precisão. Certamente que, diante disso, congratulações e aplausos frequentemente faziam parte da sua vida. Dessa forma, Estela sentia-se, neste mundo ordinário, o ser mais especial e único.

Na hora do almoço, a boa moça não permanecia sozinha. Seus amigos de profissão sempre a procuravam. E juntos almoçavam, conversavam e sorriam. Estela, a protagonista de todas as horas e ocasiões.

Nos finais de semana, ela se entregava a seus prazeres. Tomava doses e mais doses de conhaque. Tragava todos os cigarros. No seu corpo, Estela fazia questão de vestir a roupa mais ousada do armário. Além disso, seus lábios carnudos eram delineados com um batom exageradamente vermelho. Na pista de dança beijava o José, o João, o Sandro, a Letícia e a Gabriela. Nas noites de sábado dormia na casa do Mauro ou da Carla. Ou então, divertia-se em algum quarto de motel com a Soraia e a Paula.

A luz de Estela parecia nunca se apagar. Seu brilho era intenso, assim como o sorriso cativante. Contudo, toda estrela, em algum momento, vai extinguindo o fulgor paulatinamente.

Durante as madrugadas frias, Estela caminhava sem rumo. Até se deparar com a porta do seu apartamento. Os devaneios sensuais haviam cessado. Recolhida no parapeito da janela, Estela observava o céu e as nuvens. O vento ameno afagava os cabelos loiros e despenteados. Pensativa, escutava longínquos ruídos da cidade enlouquecida e solitária.

Tempos depois, vencida pelo cansaço, Estela deitava na cama. A seu lado, não havia ninguém. Cerrava os olhos para a realidade.

No quarto vazio, o silêncio reinante. Onde estão seus amigos? Que amigos, Estela? Apenas sombras visitavam as paredes – testemunhas mudas da solitude humana.
 

Nenhum comentário :

Postar um comentário