Por Mayanna Velame
Não que ela fosse feliz.
Apenas tentava fingir ser companheira da felicidade. Na padaria, contemplava os
atendentes com um sorriso aberto e ângulos perfeitos. Seu bom-dia ecoava como sinfonia
singular nos ouvidos de quem o ouvia.
No ônibus, durante o
trajeto para o trabalho, cedia seu assento para pessoas mais idosas. Gostava de
ser gentil, delicada e amável. No entanto, o que mais apreciava eram os elogios
recebidos por sua bondade.
Quando estava no
escritório, deixava a mesa muito bem organizada. E nas reuniões, exibia suas
ideias com bastante coerência e precisão. Certamente que, diante disso,
congratulações e aplausos frequentemente faziam parte da sua vida. Dessa forma,
Estela sentia-se, neste mundo ordinário, o ser mais especial e único.
Na hora do almoço, a
boa moça não permanecia sozinha. Seus amigos de profissão sempre a procuravam.
E juntos almoçavam, conversavam e sorriam. Estela, a protagonista de todas as
horas e ocasiões.
Nos finais de semana,
ela se entregava a seus prazeres. Tomava doses e mais doses de conhaque. Tragava
todos os cigarros. No seu corpo, Estela fazia questão de vestir a roupa mais
ousada do armário. Além disso, seus lábios carnudos eram delineados com um batom
exageradamente vermelho. Na pista de dança beijava o José, o João, o Sandro, a
Letícia e a Gabriela. Nas noites de sábado dormia na casa do Mauro ou da Carla.
Ou então, divertia-se em algum quarto de motel com a Soraia e a Paula.
A luz de Estela parecia
nunca se apagar. Seu brilho era intenso, assim como o sorriso cativante.
Contudo, toda estrela, em algum momento, vai extinguindo o fulgor
paulatinamente.
Durante as madrugadas
frias, Estela caminhava sem rumo. Até se deparar com a porta do seu apartamento.
Os devaneios sensuais haviam cessado. Recolhida no parapeito da janela, Estela
observava o céu e as nuvens. O vento ameno afagava os cabelos loiros e
despenteados. Pensativa, escutava longínquos ruídos da cidade enlouquecida e
solitária.
Tempos depois, vencida
pelo cansaço, Estela deitava na cama. A seu lado, não havia ninguém. Cerrava os
olhos para a realidade.
No quarto vazio, o
silêncio reinante. Onde estão seus amigos? Que amigos, Estela? Apenas sombras
visitavam as paredes – testemunhas mudas da solitude humana.
Nenhum comentário :
Postar um comentário