Por Denise Fernandes
Lá estava, mais um jogo de
tarô. As cartas coloridas sobre a mesa e minha cabeça perdida em reflexões. A
carta "O julgamento" está sempre no meu jogo e lá estava ela. Eu não
entendo. Acho estranho alguém sempre tirar a carta "O julgamento" e o
mais estranho é que esse alguém estranho seja eu mesma.
E então vejo "A
Torre", central na primeira casa, e vou lembrando. O dia recente que dei
umas dez topadas, quase quedas, sem entender o motivo. Posso entender com
"A Torre": é quase um ruir meu, uma queda profunda. Lágrimas inesperadas diante da televisão,
lágrimas inesperadas olhando a lua, numa música. "A Torre" traz essas
lágrimas inesperadas e talvez traga mais.
Frágil, trêmula, sou mesmo
essa torre tocada pelos raios de Júpiter. A idade não me deu força, deveria ter
dado? O tempo só me trouxe mais ternura, muito do que parecia meu o tempo
levou. Minha força, coragem, um medo que eu tinha de tudo, tudo foi consumido
no trajeto constante do tempo. Esse trabalho do tempo tem a ver com a carta
"O julgamento" no meu jogo, mesmo que eu não entenda. "A
Torre" mostra que eu não entendo. E pratico autotortura vendo na televisão
um homem caminhar no fio, numa altura enorme, batendo recorde. Fico vendo quase
sem respirar direito, pior que ficar espremendo espinhas e cravinhos.
"A Torre" também
é eu sonhar com um amor de filme ou de novela quando nada indica que ele
apareça. Acho que "A Torre" é estar no lugar errado, na hora errada,
quase um oposto da carta "O mago", estar no lugar certo, na hora
certa. "A Torre" é a falta de ponte, um desfiladeiro, rochas que não
estão firmes, um vento que a gente não entende.
"A Torre" é não
ter a mínima ideia de que roupa colocar, ter um cabelo com vida própria, bem
independente da sua vontade, agir de forma a fracassar diante de si mesmo,
viver perdas. "A Torre" foi o tsunami no Japão, o terremoto no Haiti
e outros tipos de catástrofe natural. Na noite do tsunami, podia sentir um peso
no ar. Sei que é loucura, mas foi assim que senti.
"A Torre" é uma
carta que mostra a profundidade do tarô. Ela mostra a face terrível de Deus. Ele
é plantação, mas também gafanhoto. Céu azul, mas também terremoto. A situação
com "A Torre" mostra que devemos temer a Deus, senhor dos raios
também.
Fecho
as cartas. Como quem guarda algo precioso, guardo meu tarô. Mesmo assim, a
imagem que estou numa torre continua em mim. A torre é alta e me dá vontade de
voar. A torre sou eu também e sinto que não sei o que estou fazendo nas suas
paredes e silêncios. A torre é em mim onde me ergui, me construí diante do
espelho e nas minhas atitudes, onde te espero e talvez você não apareça.
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