Por Alex Constantino
José Bonifácio de Oliveira Sobrinho (Boni), ex-vice-presidente de operações (mandachuva) da TV Globo, lançou recentemente sua autobiografia. Em entrevista concedida ao canal GNT News, para divulgação do livro, confessou ter dado "dicas" ao então candidato à presidência Fernando Collor de Mello.
Segundo a reportagem, ele teria admitido ter ajudado Collor no último debate com Lula - e que até o suor do candidato era produzido. De acordo com suas palavras: “Conseguimos tirar a gravata do Collor, colocar um pouco de suor com glicerinazinha, e colocar as pastas todas que estavam ali, com supostas denúncias contra o Lula, essas pastas estavam inteiramente vazias, com papéis em branco. Foi uma maneira de melhorar a postura do Collor junto ao espectador, pra ficar em pé de igualdade com a popularidade do Lula”.
Na mesma reportagem consta que, em sua biografia, Boni declara que houve uma iniciativa de favorecer Collor na exibição de trechos do debate em edição do Jornal Nacional; sendo que tal conduta teria partido do próprio Roberto Marinho.
É muito interessante notar que o episódio acima demonstra toda engenhosidade e pioneirismo da tevê brasileira. Enquanto Bertold Brecht estimulava a quebra da quarta parede em sua teoria do teatro épico porque, segundo o grande dramaturgo, tal atitude encorajaria a plateia a assistir a peça de forma mais crítica, nossa televisão radicalizou no final da década de 80, subvertendo o conceito original.
O termo quarta parede refere-se a uma divisória imaginária entre o trabalho fictício e a audiência. É um muro que separa o mundo encenado da audiência. No caso da emissora tupiniquim, houve uma aplicação inédita. Não para separar o público de uma ficção, mas para aliená-lo através de artifícios dramatúrgicos sobre a realidade.
Agora a suspensão da descrença não fica restrita às obras de ficção, mas deve ser considerada quando você assiste ao jornal da noite. Vai ver é por isso que o anúncio recente da saída de Fátima Bernardes do Jornal Nacional virou quase uma novela, com tons épicos e declarações contundentes de que a troca era um momento histórico. Deve ser: está marcando a ficcionalização do jornal.
Quem vocês acham que é o mais cotado para assumir a editoria do novo Jornal Nacional: Benedito Ruy Barbosa, Manoel Carlos ou Glória Peres?
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