terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Nada Será Como Antes

Por Denise Fernandes
       Essa música me faz lembrar o Galileu Galilei, colégio no qual estudei em 81 e 82, na cidade de São Paulo. Cantávamos juntos porque vivíamos a intensidade de saber que aquela convivência intensa e cotidiana terminaria e nunca mais voltaria a acontecer.
        Nessa última semana, lembrei um dia em que colocamos o professor de Matemática no lixo porque não queríamos ter aula. A classe se uniu e vocês podem imaginar a delícia que foi.
        Foi um período bom demais. Não porque eu tivesse 15, 16 anos e houvesse algo maravilhoso em si na juventude, só por ser juventude. Mas porque compartilhamos, naquele momento, uma esperança que dura até hoje. Eu e a Nanala trocávamos cartas que seriam publicadas num livro escrito por nós duas quando fossemos adultas. O pseudônimo da Nanala era Zabrinska, por causa do filme Zabrinskie Point. Se publicarmos um dia esse livro, teríamos que incluir o DVD do filme do Antonioni junto porque, sem vê-lo, não dá para entender minha história e da Nanala. Meu pseudônimo era Heine. A Nanala me batizou com esse pseudônimo porque ela tem uma alma alemã e cismou que eu tinha a ver com o tal poeta alemão. Claro que a gente amava o Fernando Pessoa e foi a Nanala quem me apresentou a Clarice Lispector. Quando li Uma Aprendizagem ou O Livro dos Prazeres, senti que podia ser salva. A Nanala sabe que me deu a mão junto com o livro.
        Naquele tempo, fizemos a promessa de sermos amigas até a morte. Promessa séria. Só não fiz pacto de sangue com a Nanala porque não fiz. Vocês podem rir à vontade mas, na época, não tinha Aids na cabeça da gente. Se um dia a Nanala quiser, ela conta dos pactos de sangue que fez. Quando eu penso naqueles momentos, rio sozinha e penso como é bom viver...
        Muita gente que estudou no Galileu nunca mais encontrei e lembro com muito carinho. Outro dia meu filho disse que talvez a história dele seja diferente e até melhor porque, através do Facebook e outras redes, é possível manter os amigos. Talvez. Acho que éramos mais tímidos do que talvez a nova geração seja hoje.
        Recentemente, a Mila conheceu a Clô, a Regininha e descobriu que todas nós havíamos estudado no Galileu. Disse que isso dava uma paz de espírito a ela. Entendo. Porque havia em nós uma alegria, uma disponibilidade para viver novos tempos, uma falta de caretice total que só pode gerar paz de espírito.
        Eu e a Nanala guardamos nossas cartas até hoje. Trinta anos depois, elas são tão preciosas quanto eram naquele momento. Nada será como antes amanhã, mas a força de eternidade daqueles momentos me ensinou a encorajar meus filhos a viverem suas adolescências intensamente, cantarem todas as músicas, abrirem-se para os amigos e amores que são sua história e verdade.
        A lembrança daqueles tempos dá a sensação que devemos conviver mais, trocar mais, e isso ainda nos fortalece. Alvoroço em meu coração, resistindo na boca da noite um gosto de sol.

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