Por Mayanna Velame
Nosso primeiro encontro foi em setembro de 2012. Quando tive a chance de vê-lo, não mais o esqueci. Ele era belo, robusto e possante. Meu desejo de tocá-lo se tornara evidente.
Aprendi muito com ele. Fomos para lugares longínquos,
passeamos debaixo de chuvas e andamos entre as poças de lama. O Siena prata
tinha um motor 1.6, força bruta para quem só havia dirigido carro 1.0. Direção
macia, marcha boa para ser trocada. Carinhosamente, o veículo foi batizado de
Pratinha, afinal, todo carro é eventualmente visto como membro da família.
Meu relacionamento com o Siena permeou 4 anos e alguns
meses. Nosso caso foi de extrema amizade. Pratinha me acompanhou durante todo
esse tempo. Levou-me ao trabalho, banco, supermercado, academia, aeroporto e,
claro, eu o levei, dezenas de vezes, a oficinas.
Eu e Pratinha cruzamos semáforos, sofremos incidentes,
multas e também recebemos os mais variados xingamentos dos nossos "gentis
motoristas". Nos momentos de tristeza, debruçada sobre o volante, Pratinha foi
testemunha única das dores que só tive coragem de compartilhar com ele. Quem
disse que não há sentimentalismo entre uma mulher e um carro?
Manaus foi muito pequena para nós. Viadutos, alamedas, ruas
e lombadas. As rodas beijando o asfalto... Nos passeios noturnos, seu painel (em
tom alaranjado) fascinava. Metódica, meu pé direito número 35 se entregava ao acelerador.
O mundo girava de acordo com a nossa velocidade.
A última vez que o dirigi, foi ao entardecer de um
sábado. Liguei seus faróis para romper a escuridão da noite iminente. Percorri,
sem qualquer tipo de pressa, algumas ruas. Decidi não ouvir música ou programa
de rádio. Queria apenas me despedir; ouvindo seu motor, buzina e os estalos da
suspensão já comprometida.
A garagem não ficará vazia. Outros carros surgirão, com
novas histórias e aventuras. Porém, nesses dedos, ficarão as lembranças do
toque no volante – daquele que foi e será, perpetuamente, meu Pratinha.
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