sexta-feira, 10 de março de 2017

1.6

Por Mayanna Velame




Nosso primeiro encontro foi em setembro de 2012. Quando tive a chance de vê-lo, não mais o esqueci. Ele era belo, robusto e possante. Meu desejo de tocá-lo se tornara evidente.


Aprendi muito com ele. Fomos para lugares longínquos, passeamos debaixo de chuvas e andamos entre as poças de lama. O Siena prata tinha um motor 1.6, força bruta para quem só havia dirigido carro 1.0. Direção macia, marcha boa para ser trocada. Carinhosamente, o veículo foi batizado de Pratinha, afinal, todo carro é eventualmente visto como membro da família.


Meu relacionamento com o Siena permeou 4 anos e alguns meses. Nosso caso foi de extrema amizade. Pratinha me acompanhou durante todo esse tempo. Levou-me ao trabalho, banco, supermercado, academia, aeroporto e, claro, eu o levei, dezenas de vezes, a oficinas.


Eu e Pratinha cruzamos semáforos, sofremos incidentes, multas e também recebemos os mais variados xingamentos dos nossos "gentis motoristas". Nos momentos de tristeza, debruçada sobre o volante, Pratinha foi testemunha única das dores que só tive coragem de compartilhar com ele. Quem disse que não há sentimentalismo entre uma mulher e um carro?


Manaus foi muito pequena para nós. Viadutos, alamedas, ruas e lombadas. As rodas beijando o asfalto... Nos passeios noturnos, seu painel (em tom alaranjado) fascinava. Metódica, meu pé direito número 35 se entregava ao acelerador. O mundo girava de acordo com a nossa velocidade.


A última vez que o dirigi, foi ao entardecer de um sábado. Liguei seus faróis para romper a escuridão da noite iminente. Percorri, sem qualquer tipo de pressa, algumas ruas. Decidi não ouvir música ou programa de rádio. Queria apenas me despedir; ouvindo seu motor, buzina e os estalos da suspensão já comprometida.


A garagem não ficará vazia. Outros carros surgirão, com novas histórias e aventuras. Porém, nesses dedos, ficarão as lembranças do toque no volante – daquele que foi e será, perpetuamente, meu Pratinha.

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