sábado, 13 de fevereiro de 2016

Outros carnavais

Por Meriam Lazaro




O prazer de cumprir metas nos leva a desafios ainda maiores. Depois de assistir nos canais literários a gurizada divulgando listas de livros para ler durante o ano, também fiquei com vontade de brincar. Nada me ocorreu, porém.


Reli esta semana o conto de Julio Cortázar “La Autopista Del Sur” – aquele do engarrafamento gigantesco com duração de vários dias – daí me veio à lembrança o último engarrafamento na estrada, cujo trajeto de duas horas para a praia foi realizado em quase seis. Depois disso, nem chocolate eu quero; só quero sossego durante a folia carnavalesca. Assim me Livro.


Notícias recentes mostram resultado positivo do uso das cotas universitárias destinadas aos estudantes menos favorecidos, conforme a Lei: pretos, pardos e indígenas que assim se declarem. Quem pensar que, pela miscigenação de povos no Brasil, as cotas deveriam abarcar toda a população, estará fugindo do problema. Sou simpatizante das cotas para as minorias, embora todos saibam que não é a situação ideal. Ora, convenhamos, num mundo ideal eu seria uma paparicada ursa panda, ganhando fácil bambu e cócegas para escapar da extinção.


Voltando à minha antiga paixão, fiquei encafifada com a questão de gêneros proposta por grupos de leitoras e leitores como o “Leia Mulheres”. Por que escolher um livro pelo gênero? De início, confesso até gostei do discurso da voz grossa: "Não leio homens ou mulheres, leio ideias!" Porém a frase se mostrou inconsistente quando reparei na lista de leituras do ano passado com escassez de escritoras, ainda que eu tenha destinado a elas um mês de cota.


De qualquer modo tem ano novo chinês começando em fevereiro, surgindo a ideia (feminina com certeza) de listar, dentre os livros da estante, 14 escritoras para ler em 2016. Ainda não sei se há a diferença na arte da escrita de homens e mulheres, nem se trata disso a proposta do “Leia Mulheres”, assim como não se trata de questão de QI a destinação de cotas nas universidades. A segregação moderna pode não ser aparente e muitas vezes não o é. No baile de máscaras o preconceito pode vir fantasiado de sutilezas irônicas.


Agora, dá licença, que vou é me vestir de ponto e vírgula para desfilar em livro aberto.

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