Por Meriam Lazaro
Da página do livro ergueu-se um
recorte. Tinha a forma humana, vestido de palavras dos pés à cabeça. Quem viu autores
interromperem a história e, num parêntese divertido, prestarem esclarecimentos
sobre a narrativa, não se espantaria em presenciar o personagem destacar-se do
papel, tomar os óculos do leitor e passar a relatar suas mais antigas memórias.
Desta feita, o branco letrado retornou à época em que faltavam brinquedos e aí
as figurinhas eram recortadas do jornal, espalhadas no soalho, originando
inúmeras histórias.
Quem não acredita na mágica
descrita, vai me dizer que nunca montou peças de papelão da caixa de sabão em
pó? Ou pensou em escrever um livro abolindo as maiúsculas e os sinais de
pontuação? Então saiba que foram escritos livros cujas frases não iniciavam do
modo convencional e por mais bonitas, emocionantes, que fossem suas histórias,
o escritor ganhou fama foi por causa das minúsculas, tendo que romper com essa
novidade. Já seu conterrâneo ousou contar histórias sem qualquer pontuação,
tendo recebido (não sei se também por isso) o máximo prêmio literário.
Por falar em prêmio, resta torcer
para que o Nobel de literatura deste ano seja concedido à brasileiríssima Lygia
Fagundes Telles, que escreve certo por linhas retas. Fosse a sua escrita
enviesada, quem sabe sua nomeação teria ocorrido antes.
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