sexta-feira, 26 de fevereiro de 2016

O voo

Por Mayanna Velame




Afivelei o cinto antes que o comandante desse as boas-vindas. Pouco a pouco, os passageiros foram se acomodando. No corredor, aeromoças a orientar aqueles que não encontravam suas poltronas. Em meu lugar, comemorei. Viajaria sentada, ao lado da janela. Lá fora, aeronaves estacionadas no pátio eram abastecidas e vistoriadas. Em breve, elas ganhariam o céu, voariam para seus destinos...


Gosto de voos noturnos. Eles são silenciosos, calmos. As luzes da cabine se apagam, passageiros dormem (apenas alguns, porque há exceções). Tudo parece mais sereno. Perguntei-me, então, o que desperta esse desejo de viajar. Seria a realização de um sonho? Ou somente férias? Todos estariam de mudança para outra cidade?


Cada qual com um destino a ser concretizado. A depender de uma aeronave, a depender de um voo.


Educadamente, o comandante saúda os passageiros: anuncia seu nome, tempo de voo, temperatura e, por fim, agradece em nome da companhia. Engraçado como a voz dos pilotos é parecida! O mesmo timbre, ritmo vocálico, sotaque.


Tirando as coincidências aeronáuticas, viajar de avião é sempre mágico. Experiência boa para uns; nem tanto para outros. Há quem só embarque a base de calmantes. Adormecer, durante a viagem, torna-se uma necessidade para inibir o medo de voar.


Prontamente, no versejar do tempo, a tripulação continua os preparativos para a decolagem. De repente, um homem rechonchudo senta do meu lado. Cordial, ele acena e me deseja boa viagem. Retribuí com um sorriso – não tão belo quanto o da aeromoça –, mas foi um gesto sincero e atencioso.


Os avisos de segurança antecedem a decolagem. Atentei-me para a mensagem do comandante: “Tripulação, decolagem autorizada”. Após o barulho das turbinas, o pássaro metálico ganha o céu.


Da janela, vi a cidade cada vez mais pequena e distante. Suas luzes lembram vagalumes brincantes. No horizonte, um pontilhado de estrelas dividia a madrugada comigo (e com alguns farrapos de nuvens).

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