Por Meriam Lazaro
Ter
ou não ter vergonha na cara era tido como símbolo de bom ou de mau
caráter no tempo de minha meninice. Tudo levado a sério, algumas vezes
resultando em suicídio, pena máxima auto imposta por quem, abusando do
poder, fraudava instituições. Naturalmente, esta vergonha exacerbada não
é coisa destas bandas do Atlântico, que pacificamente vivia de
esperança e agora de solidariedade. Solidariedade já foi minha palavra
preferida, assim como esperança. Embora veja alguma diferença entre
elas, creio que têm pontos em comum. Porém a bola da vez é a vergonha.
Apesar do dicionário, sempre desconfiei que havia uma distinção entre
vergonha e culpa. A culpa parece ser vinculada pontualmente a uma ação
ou omissão praticada pela gente. Talvez esta noção seja contaminada pelo
conceito de culpa e culpabilidade do Direito aprendido na Faculdade. A
vergonha, muito mais moral, sentimos por ação ou omissão de outros. É
mais geral. Na verdade, há pessoas que pensam melhor quando estão
sozinhas falando em voz alta. Outras, quando participam de conversas
animadas. Penso melhor com palavras escritas. Aqui construindo uma
explicação tardia para a vergonha nacional. Falo da vergonha alemã, que
observo há muito tempo lidar com o mais sangrento marco da História. Lá
pelos meus 19 anos de idade participei de um grupo de trabalho
voluntário, de prestação de serviços de saúde à comunidade, com foco em
oftalmologia e ortopedia, custeado por uma entidade alemã. Era muito
dinheiro recebido e igual quantidade de dinheiro desviado. De qualquer
modo, se mostrava algum serviço à patrocinadora. País do tamanho de um
Estado nosso, o que mostra que recursos naturais não faz diferença
econômica em mãos dementes. Da Alemanha também saíram grandes gênios da
filosofia, da música e até o mais conhecido gênio da humanidade,
Einstein. Será que se cansaram de ser inteligentes e desejaram, de uma
hora para outra, ser reconhecidos como homens de arena? Pelo contrário,
investiram na manutenção de seus jovens atletas no mercado interno.
Mostraram que tudo pode ser objeto de estudo. Aquilo que já sabíamos:
talento é um pequeno percentual de qualquer arte ou ofício. Eis que
agora se encontraram frente a frente. Um povo envergonhado de parte de
seu passado, que por isso se esforça para ser melhor e gosta de oferecer
ajuda a quem precisa, assim oferecendo donativos a Bahia, ao Rio Grande
do Sul. No outro lado do oceano, um povo que se acha muito esperto ao
trocar voto por vã esperança. Continuo com a prática da solidariedade e a
achar este o mais nobre sentimento humano, sim! Agora, pensando em voz
grifada, sinto vergonha desse poço sem fundo onde se atiram moedas
paliativas e o povo pedinte sorri encabulado sem forças para cobrar
soluções definitivas e perfeitamente possíveis.
Um povo alienado por alguns exemplos de comportamento, não quero ser injusto, mas qual estado e povo é mensagem e cor do Brasil lá fora? O povo está sem reação por não acreditar que isso tudo é realidade, nas novelas todas elas, o final é feliz.
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