Por Amilcar Neves*
Tem gente que espera o
ano todo para ser cumprimentada. Para comemorar. Para fazer a sua festa. Para
sentir-se importante, para ser o rei da sua rede social na internet. Para
ver-se anunciada a amigos, desconhecidos e desafetos, ao Universo inteiro, como
o cara a quem se deve escrever nem que seja um olá!, nem que seja um
desenhozinho pronto, disponível em dezenas de aplicativos.
Conheço pessoas,
geralmente funcionários públicos (acho que todo mundo conhece alguém assim),
que afirmam, felizes da vida:
- Eu mereço, eu sei o
quanto valho e por isso faço o meu feriado particular. Assim como países,
estados e cidades comemoram as suas datas, também eu não trabalho, nunca, no
dia do meu aniversário. Acredito que devo-me esse pequeno luxo.
Vai aí funcionário
público não para criticar a categoria, mas pelo fato de ser uma classe da qual
os seus membros recebem uma bonificação anual de dois ou três dias para faltar,
sem punição nem prejuízo, caso passem um ano inteiro... sem faltar.
Uma pessoa dessas dedica
a si, como prazer da ausência permitida, o seu dia - ou a sexta ou a
segunda-feira emendada no final de semana do natalício. Naquele dia
ansiosamente aguardado, ela recebe os parabéns por nada, por não ter feito
nada; não por produzir e criar alguma coisa, mas simplesmente por ter
sobrevivido mais 12 meses: colhe aplausos e sorri agradecida, já pensando no
próximo aniversário, já sonhando com os presentes que virão.
Há entretanto os que
preferem cumprimentos em razão direta de algum sucesso (do Houaiss:
"aquilo que sucede; acontecimento, fato, ocorrência"). Estes por
vezes até esquecem o dia em que nasceram.
Há aquela Senhora que foi
festejada durante a semana passada por conta do dia 31 de maio: pelos
inestimáveis serviços que presta e não apenas por completar mais um ano de vida
- e que vida! 160 anos não é fenômeno comum neste jovem país. Dizem até que a
de Santa Catarina foi a segunda biblioteca pública estadual a ser criada no
Brasil (assim como outras que reivindicam idêntica quase primazia).
Quem andou por lá a
cumprimentá-la, com direito a discurso e bolo com guaraná, foi seu chefe quase
maior, o Secretário de Turismo, Cultura e Esporte, Filipe Mello. Ele revelou
(coisas de anotar na cadernetinha e cobrar daqui a pouco) duas providências: a
aquisição iminente de uma máquina de 300 mil reais para digitalizar jornalões,
equipamento fundamental para preservar o acervo valioso que vem do século 19 e
torná-lo acessível à distância ou nas próprias dependências da casa, e uma
reforma de 3 milhões, a iniciar-se ainda este ano, naquele prédio já bem
necessitado de rejuvenescimento. Pena que não pôde anunciar que a biblioteca se
tornaria uma fundação e que seu cargo supremo se alçaria no mínimo à
importância de uma diretoria - hoje não é nem mesmo uma gerência.
O Secretário fez ainda
uma revelação assustadora. Ele, que é o sexto ocupante do cargo no atual
governo, mas não tem culpa alguma dessa série imensa (que já o incomoda
visivelmente, tanto se ressalta essa instabilidade fomentada pelo governo
estadual, que não se preocupa de verdade em ter alguém que efetivamente dirija
as três áreas abrigadas na mesma repartição), é, pasmem!, o primeiro titular da
pasta a colocar os pés na nossa respeitável Biblioteca.
Tomara que ao menos o
Governador seja mais assíduo àquelas estantes do que o foram os cinco homens
que ele escolheu para cuidar da Cultura.
*Crônica
publicada no jornal "Diário Catarinense" de 04.06.14
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