sexta-feira, 15 de agosto de 2014

Barcos e aviões

Por Mayanna Velame
 
 


Quando eu era criança, nos tempos de escola, meus professores de Geografia sempre solicitavam mapas. Devo dizer que nunca fui boa em desenhá-los. Tinha extrema dificuldade em traçar as linhas do Mapa Político do Brasil e, quando não, delinear os contornos do Rio Amazonas (e seus afluentes) era o maior pesadelo de todos.
 
A salvação era meu pai. Com pincéis de ponta preta, lembro que ele rascunhava, com exatidão, cada detalhe dos estados da Federação; assim como, minuciosamente, esboçava os rios sinuosos da Bacia Hidrográfica do Amazonas.
 
O auxílio continuou por anos. Papai me ajudava com muita dedicação. Esquecia até mesmo de seu sagrado futebol, nas tardes de domingo. Estava ao meu lado sem pedir nada em troca. Amor de pai é assim: sereno e amistoso.
 
No entanto, o que eu mais gostava era do tempo chuvoso. A água da chuva espalhava poças de lama pelo jardim. Sem hesitar, pedia barquinhos de papel a papai. Ele, obviamente, atendia ao pedido. Os barquinhos tinham vários tamanhos – desde pequenos até médios. Na minha imaginação, eles cruzavam os oceanos e seus mistérios.
 
Mistério não tão maior quanto o fascínio de vê-lo dobrando e redobrando papéis, criando e recriando aviões; feitos com folhas de jornais e revistas velhas. Papai sempre fora muito criativo. Sangue de cearense corre dessa forma.
 
Interessante como certos acontecimentos jamais abandonam a mente. Embora, muitas das vezes, nossa memória reproduza apenas alguns fragmentos: retalhos de sensações (e emoções) que permanecem vivas (e latentes) dentro do coração.
 
As lembranças adormecem. Ficam em estado de repouso. Mas os ventos da vida sopram de volta momentos bons e singulares, que todos nós dividimos com quem amamos.

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