Por Amilcar
Neves*
Não sei como será hoje à noite,
mas na terça-feira o reinício foi promissor. Aliás, na terça e também na
quarta. Bem verdade que, se soubesse com precisa exatidão como serão as coisas logo
mais, eu não estaria aqui nem continuaria um pobre mortal remediado. Já teria
comprado alguma imortalidade por aí, posto que dinheiro não me faltaria e visão
de futuro seria das clarividências de que disporia à vontade.
Mas não sou adivinho. Nem mago.
Se mago fosse, venderia livros aos borbotões, livros baratos, quase dados,
viveria na Suíça à tripa forra, como se dizia em priscas eras, assumiria uma
cadeira na Academia Brasileira de Letras só para demonstrar o poder dos meus
dons e nunca mais daria as caras depois da marcante sessão de minha posse.
Não sei como será mas vi como
foi, esta a minha mortalidade indeclinável.
Vi que, dos cinco clubes
catarinenses que atuam nas duas principais divisões do futebol brasileiro -
três na Série A e dois na Série B -, quatro retomaram seus campeonatos com o pé
esquerdo, como dizia o saudoso escritor Francisco José Pereira, comunista
histórico e convicto destas terras barrigas-verdes que, ao ingressar no
Partidão em tempos de Faculdade de Direito, decepcionou-se profundamente justo
porque lhe negaram a tão sonhada carteirinha de membro do partido.
"Estamos na clandestinidade", disseram-lhe, "a Lei nos
persegue". O que o Francisco não conseguia entender é que, na terra, todo
mundo sabia quem era comunista e quem caçava comunista, sem que dessas
posições, a princípio (antes de 1964), resultassem consequências práticas para
mais ou para menos.
O Francisco, aliás, estaria muito
orgulhoso do seu Figueira, que foi a Curitiba na quarta-feira, derrotou o
Coritiba por 2 a 0 e entregou a lanterna, de bandeja, para ninguém menos do que
o assustador Flamengo, que perdeu em casa para o Atlético do Paraná. Por isto
que o Mengão anda assustador. Na mesma noite, o Criciúma batia no Sul o
Fluminense, que pelo futebol jogado em campo no ano passado deveria estar na
Série B, de onde uma manobra de tapetão o alçou à Série A.
Os demais daqui
Na terça, o Joinville fez bonito:
foi a Fortaleza, desafiou o líder Ceará e venceu o jogo por 3 a 1. De quebra,
assumiu a ponta da tabela, robusto candidato à Série A de 2015.
Na mesma noite, numa Ressacada
vestida de azul e branco, o Avaí fez mais uma das suas: toma um gol aos 11
minutos de partida, tem um jogador expulso na metade do primeiro tempo e perde
um pênalti aos 45. A vantagem é que o autor da penalidade já tinha um cartão
amarelo, recebeu o segundo e foi expulso de campo. Na fase final, empata logo
aos 5 e espera - haja coração! - para virar o jogo apenas aos 45 do segundo
tempo e subir para 6º na tabela.
Nessa retomada pós-Copa, só a
Chapecoense não venceu. E não venceu apenas porque não jogou: sua partida da
10ª rodada, no Oeste, ficou para o dia 6 de agosto contra o Atlético de Minas.
A novidade
O que se mostra novo e promissor
nesse reinício de jornada do futebol catarinense é o comportamento em campo do
Avaí: continua eletrizante, ou seja, quase mata seus torcedores a golpes de
descargas elétricas errantes, que se deslocam sem parar entre cérebro e coração
- senão não seria o Avaí -, mas demonstra outra disposição durante o jogo.
Antes, se começasse perdendo uma
partida, não encontrava forças para virar o placar.
Antes, se estivesse na frente,
encolhia-se todo até levar os gols suficientes para amargar nova derrota, o
golpe de misericórdia desfechado invariavelmente aos 47 minutos do segundo
tempo.
Antes, a dor das dificuldades com
a bola não extravasava no desabafo final de uma vitória quase inesperada.
Não sei como será hoje à noite,
mas se valer o espírito da terça, a Ponte Preta que se cuide.
*Crônica publicada no jornal
"Diário Catarinense" de 18.07.14
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