Por Denise Fernandes
Pitoco é o nome da rolinha
que na semana passada apareceu aqui na vila com a asa machucada. Cauê, meu
neto, e seu amigo Victor batizaram a rolinha e eu, rapidamente, fui convocada
na ajuda ao pequeno animal. Achei uma caixa ótima de palha, bem espaçosa. Demos
água e fubá. A rolinha ciscava a fubá com prazer, parecendo feliz. Seus
olhinhos brilhantes, super brilhantes nos conquistaram.
Depois de cinco dias de
fubá e hospedagem no lar de palha, Pitoco parecia pronto para o voo. Assim,
soltamos e sim, ele estava pronto para todos os voos. Pitoquinho... que saudade
de você!
Há uma grandeza nesses
amores que libertam de forma tão clara quem se ama. Há uma saudade que você
encara com coragem. Quando saí da casa dos meus pais, saí sabendo a grande
saudade que levava, mas precisava ir. Para ser livre. Quando me separei sabia
mais ou menos da quantia de saudade que levava, mas precisava ir. Sou como a
rolinha que ama ir, mesmo sem saber para onde. Alegria de não estar contida. Tomar
um café a hora que eu quiser, a liberdade como o contato com a substância mais
fina da vida, volto quando quero. Pessoas que me esperam porque me amam. Vou
porque amo tanto que amo o além também. Vou porque amo voltar.
Asas do desejo, dos
incertos caminhos: desdobra-se sobre as paisagens que me trazem saudades. Ainda
livre, meu coração me pesa, matéria densa de tanto e tantas, coraçãozinho de
criança no corpo de mulher. Enquanto voo, penso melhor, esqueço melhor.
Descubro outra trilha. Coração selvagem, coração de vidro, coração de sabão.
Coração de pitoco.
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