terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Pitoco

Por Denise Fernandes

 

         Pitoco é o nome da rolinha que na semana passada apareceu aqui na vila com a asa machucada. Cauê, meu neto, e seu amigo Victor batizaram a rolinha e eu, rapidamente, fui convocada na ajuda ao pequeno animal. Achei uma caixa ótima de palha, bem espaçosa. Demos água e fubá. A rolinha ciscava a fubá com prazer, parecendo feliz. Seus olhinhos brilhantes, super brilhantes nos conquistaram.
         Depois de cinco dias de fubá e hospedagem no lar de palha, Pitoco parecia pronto para o voo. Assim, soltamos e sim, ele estava pronto para todos os voos. Pitoquinho... que saudade de você!
         Há uma grandeza nesses amores que libertam de forma tão clara quem se ama. Há uma saudade que você encara com coragem. Quando saí da casa dos meus pais, saí sabendo a grande saudade que levava, mas precisava ir. Para ser livre. Quando me separei sabia mais ou menos da quantia de saudade que levava, mas precisava ir. Sou como a rolinha que ama ir, mesmo sem saber para onde. Alegria de não estar contida. Tomar um café a hora que eu quiser, a liberdade como o contato com a substância mais fina da vida, volto quando quero. Pessoas que me esperam porque me amam. Vou porque amo tanto que amo o além também. Vou porque amo voltar.
         Asas do desejo, dos incertos caminhos: desdobra-se sobre as paisagens que me trazem saudades. Ainda livre, meu coração me pesa, matéria densa de tanto e tantas, coraçãozinho de criança no corpo de mulher. Enquanto voo, penso melhor, esqueço melhor. Descubro outra trilha. Coração selvagem, coração de vidro, coração de sabão. Coração de pitoco.

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