Por
Rosimeire Soares
“Estou chegando.” É a voz aflita,
falando de um dispositivo telefônico, próximo à civilização.
“Tenho muitos sonhos, muitas vontades.”
Ela camufla a dissimulada donzela
promíscua que abana flores dentro de seu ser.
Sonhos? Que sonhos? Ah, vontades...
Vontade de vida fácil, de fazer parte de roda de abada, mesa de bar, poeira de
estrada, carona de caminhão.
Ela tem vontade de ir à forra, liberar o
deleite carnal, se lambuzar na estreita juventude que jorra de seu útero
inaugural.
“Seu nome, senhorita?”
“Phelia” Ela usa o PH, abandonando os
fonemas originais, familiar.
Ela quer gozar prazeres pecuniares e
desbravar os mundos urbanos e suburbanos. Quer extravasar agonias pueris, amor
Eros, ser prostituída por um homem de cada vez.
Ao amanhecer, não quer conhecer seu
patrão, quer o salário digno que desabrocha dos seus vinte anos. Não quer
conhecer poesia, música, ou sentimento qualquer.
Ela quer bailar a ignorância de um ser
inútil, fútil, frívolo, leviano e as taras de um macho por qualquer cobre que
cubra sua mendigagem.
Como ser herege que se tornou ou
aflorou, anuncia sua chegada para triunfar no palco de sua própria limitação.
Inês ou Phelia (com ph), a sina, a
vontade. Seu nácar se mistura à areia da obscuridade e abandona a ostra. Sua
ignomínia a derrota e se derrama como piche, soltando mancha de dor e
sofrimento no asfalto.
Quebra-se o sonho, quebram-se as
vontades: Phelia, o naco da humanidade.
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