terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

He Fly

Por Denise Fernandes
 
 
 
 
He fly. Não, não seria a tradução "ele voa". Sabemos bem que o homem não voa e que morremos de inveja dos pássaros. Mesmo que o Freud não tenha falado nada desse sentimento poderoso, dando ênfase à inveja do pênis, as asas possíveis nos consomem. Bloco de rua: a moça toda feliz e bonita, sua fantasia de asas não parece de anjo, a mulher criou asas mesmo. Meu raciocínio: acho que preferia duas asas do que um pênis, mesmo que fosse fabuloso, enorme e não sei o que mais.
         He fly: assim fico tranquila, nada da inconsciência do voo do avião que se parte ou se esconde. Nada a ver com o helicóptero poderoso e traiçoeiro. Vamos viver sem heróis, sem fronteiras. Ele voa como o beija-flor ou como uma libélula encantada. Ele voa como os pequenos pássaros e as gaivotas, ele me leva em suas asas. Sem que nos importemos com os dinheiros e as mortes, nossa alma absurda nos rapta. Esquecemos os problemas.
         He fly: há esconderijos no Ar e de lá ele faz um ninho para mim. Porque moro em algum lugar do coração dele e isso me basta. Sem tapetes, sem cortinas, sem talheres, nossos corpos rústicos nos servem e sempre serviram. Essa saudade não é de algo que se compra, é que somos cometas errantes, estou começando a perceber. Vontade de chorar por causas inexatas, se eu soubesse o que acontece comigo, explicaria. E porque desejo todos os seus voos.
         He fly: no registro fotográfico, no meu céu e em outros. Pequeno menino-pássaro, grande entrega, todas as flores sem espinho. Na exposição do Sesc Vila Mariana, a foto registra a doação dele, Lucas Marsiglia, e do fotógrafo Rafael Pieroni. They fly. I fly.

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