domingo, 13 de setembro de 2020

Palavras mudas

Por Oswaldo Antônio Begiato




Quando você vier
apontar minhas lástimas
traga gestos calmos,
traga gestos claros,
traga gestos castos.


Quando você vier
preparar minhas cinzas
traga um quilate de ouro,
traga um ramo de mirra,
traga um frasco de incenso.


Quando você vier
encomendar minhas crenças
lembre-se de que sou
torto,
empertigado em urna de ouro;
louco,
enfeitado com folhas caducas de mirra;
poeta,
ungido com fragmentos de incenso.


Quando você vier
retalhar minha existência
traga o silêncio dos tortos,
traga o silêncio dos loucos,
traga o silêncio dos poetas.


Quando você vier
lacrar o túmulo de minha carne insepulta,
traga palavras mudas e nada mais,
pois meus versos necessitam de silêncio.

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