quinta-feira, 8 de setembro de 2016

Arrogância

Por Daniella Caruso Gandra




Se por um dia você abandonasse sua vaidade, como se sentiria?
Será que haveria chance de ser mais livre amanhã, mais autêntico?
 


Já pensou se você não se preocupasse com o julgamento alheio?
Perseguindo suas vontades, mesmo em meio a tantas contradições?
 


Você, com certeza, mudaria de rumo, de ideia, e deixaria de falar e fazer muitas das coisas das quais está habituado. 


Sem a sua vaidade, você enxergaria muito mais as coisas erradas em você do que nos outros. 


Se você esquecesse de sua vaidade, procuraria mais as pessoas de quem sente falta, saudade; as que lhe provocam algum encantamento ou estranhamento; e também aquelas para esculachar de vez! 


Sem a sua vaidade, tão desculpável, só pelo fato de você se constituir humano, a sua insegurança, ou o receio de parecer ridículo, não faria mais sentido. 


Os nãos que recebesse, sem que lhe atingissem a alegria; os sins prematuros, sem que lhe promovessem ilusões; as incertezas encabulosas, ao passo que seus dias ficassem mais plenos, simplesmente por você se desfazer da sua tola vaidade. Consegue imaginar? 


De repente, quando perguntassem se tudo bem estivesse com você, sua resposta fosse “não ou pior que não”, ou algo do tipo, e nem por isso você se envergonhasse… 


Talvez, você jamais tenha encarado a vaidade sob esse ponto de vista, mas apenas como brio exterior aparente, mas a vaidade está além disso: é o que por dentro lhe causa temor. 


Hoje, você percebe, nos mínimos detalhes, a quanta vaidade está exposto, a como aniquila suas sensações, desejos, esperanças, criatividades, ousadias, enfim, porque a vaidade toma conta do seu ser de tal modo que não lhe deixa totalmente livre para ser você mesmo. 


Você se comunica limitadamente para não se arriscar, para não desagradar a sua vaidade, que lhe gritará o quanto você está equivocado! 


Sua vaidade se nutre das suas sobras, porque sabe que você é um excesso, e esse descomedimento é o que dita as regras da sua vida morna. 


Até as espontâneas crianças já são vaidosas, perdendo, aos poucos, o frescor e a própria identidade, para se assemelhar a seus pais, aos coleguinhas da escola, aos vizinhos, às estrelas da novela, por não serem ensinadas a ignorar sua presunção. 


Sua vaidade lhe impõe que é preciso saber, ter, parecer, mas se for para ser, vale tudo, menos ser só você. 


Então, você, devagarinho, vai se desertando de si mesmo, por não se reconhecer em meio à multidão. Você é somente mais um. 


Se você não fosse tão vaidoso, aprenderia a rir de si próprio; a voltar atrás de uma decisão; a pedir conselhos; desculpas; a dizer “eu te amo” não só para ouvir o mesmo, mas para a ciência do outro; a elogiar mais as pessoas que admira; a falar a verdade mais vezes; a dizer não, sem o desejo do controle ou o medo da perda; enfim, você se sentiria mais livre. 


Sem a sua vaidade, você delegaria as tarefas que vêm cumprindo, mesmo que não tivesse a certeza de que tudo saísse bem, mas experimentaria uma sensação nova ao deflagrar seu repetitivo comportamento. 


Ao se envaidecer, você reforça a sua soberba, e continua a viver sob um véu fraudulento de si mesmo, acreditando estar assim prevenindo-se de “vexames” cotizados pela sua reputação na sociedade. 


E nem por isso, você se sente mais feliz. Pelo contrário! Mas, no entanto, não se sente diferente, mas parte de um todo despersonalizado. 


Desiludindo-se da sua vaidade, você levaria em conta seus planos, e se não os tivesse, criaria novos e faria tentativas para concretizá-los; desobrigava-se de só dar quando recebesse; de sacrificar-se em nome de uma religião ou educação; de assumir compromissos para não parecer um à toa; de se acostumar com os problemas como uma forma de ocupação… 


É a vaidade que lhe engana, que caçoa de você. Ela tem você nas mãos, porque também não é nada sem a força dessa sua má expressão. 


A sua vaidade é teimosa, permite que você viva sem renovação, porque não interessa a recompensa da sua inevitável liberdade. 


Em vez de se envaidecer, valide-se!

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