sábado, 10 de setembro de 2016

A época da inocência

Por Meriam Lazaro




Sabe aquele livro que você sonhava ler, mas estava esgotado ou não havia tradução para o seu idioma? Esse tipo de coisa gera grandes expectativas em torno de um livro – e pode resultar em decepção. Assim me senti até metade da leitura, quando, para entrar no clima, resolvi despir-me destas ideias de século XXI e voltar para um tempo em que não havia telefone (que dirá internet!), eletricidade e, nas palavras da autora, nem viagens de cinco dias através do atlântico! Essa ausência do que hoje dispomos, como se fosse extensão de nossos corpos, é sentida no lento movimento inicial da narrativa. Diante disso, a mente apressada tem dois caminhos: vai para outra atividade que não seja a leitura do romance ou mergulha na época da inocência.


O título pode parecer uma apologia à perfeição de uma época, mas não é. Aquelas pessoas, representadas pelas personagens, sentiam que tudo estava mudando rapidamente e, a todo custo, tentavam manter o que não sabiam bem o que era, mas conheciam como “bom tom”. A história começa em 1870 e desenvolve-se em New York; envolvendo famílias aristocratas que irão se unir pelo casamento de Newland Archer e May Welland – vividos no cinema por Daniel Day-Lewis e Winona Ryder. A tensão que forma o trio amoroso fica a cargo de uma prima da família de May, a condessa Ellen Olenska, papel vivido no cinema por Michelle Pfeiffer. Pouco se fala, mas muito se presume sobre o que poderia ser a conduta escandalosa da condessa ao regressar da Europa, onde viveu os últimos anos e abandonou o marido (um nobre mau caráter). As famílias fingem proteger a descasada mas, na verdade, querem é se proteger; mantendo-a sob controle.


Apesar da aparente simplicidade da trama, a escritora trata de questões familiares complexas, da relação homem/mulher perante o casamento, e a renúncia de parte da liberdade individual em favor do pertencimento ao grupo – ao que supõe ser tradição e segurança. Passam-se décadas, a modernidade e sua pressa são sentidas na mudança de ritmo da narrativa; e a falta de “bom tom” da nova geração. Ao final do livro, me deparei, mais uma vez, com a experiência estética da literatura. Instantes de plena graça.


Livro: A época da inocência
Autora: Edith Wharton
Editora: Penguin Companhia

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