Por Mayanna Velame
Sintonizei na estação de uma rádio qualquer. Sentada no
banco do carona, observei atentamente os pingos de chuva que umedeciam o
asfalto. De repente, deixei de contemplar os chuviscos e passei a ouvir as
notícias – nada animadoras – do dia. Entre elas, uma me chamou atenção: 1
milhão de pessoas dão fim em suas próprias vidas, por ano, no mundo; segundo a
Organização Mundial da Saúde. No Brasil, esse número é de 12 mil pessoas. Diante
desses relatos, pensei na famosa obra Os
Sofrimentos do Jovem Werther (1774), do escritor alemão Goethe.
O romance tem como protagonista Werther, jovem apaixonado
por Charlotte, moça já comprometida com Albert. Através de cartas enviadas para
seu amigo Wilhelm, Werther expressa sentimentos, diante de um amor impossível
de ser vivido e realizado. Possuído pela
paixão e pela frustração latente, Werther despede-se de sua vida; suicidando-se
com um tiro de pistola na cabeça. O livro é tenso, tétrico, dramático. É difícil
não sentir o sofrimento de seu personagem principal.
No período em que foi publicada, a obra-prima de Goethe
ocasionou uma série de suicídios na Europa. Estudiosos no assunto dizem que
grupos de jovens, na época, vestiam coletes amarelos com detalhes azuis;
fazendo referência ao traje utilizado, nos últimos momentos de vida, por
Werther.
A morte como escapismo é uma das temáticas deste livro,
primor da literatura romântica na Alemanha. E apesar de estarmos em pleno
século XXI, a narrativa de Goethe continua sendo vigente.
Da ficção literária para a vida real, o suicídio faz
parte da campanha Setembro Amarelo, cujo objetivo é de conscientizar a
sociedade em relação a este tema de extrema importância. Ouvir um amigo, um
aluno, um parente, ou qualquer pessoa que esteja vivenciando essa dor na alma,
merece nossa devida atenção. Um desabafo, um abraço acolhedor, um aperto de
mão, um diálogo franco e verdadeiro podem salvar vidas cansadas e desanimadas.
Esperamos que o laço de cor amarela seja nosso sinal de
alerta, para olharmos quem está ao nosso lado com mais sensibilidade, empatia e
coração. Afinal, há muitos Werthers espalhados pelo mundo – inclusive, perto de
nós mesmos.
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