sexta-feira, 16 de setembro de 2016

Amarelo

Por Mayanna Velame




Sintonizei na estação de uma rádio qualquer. Sentada no banco do carona, observei atentamente os pingos de chuva que umedeciam o asfalto. De repente, deixei de contemplar os chuviscos e passei a ouvir as notícias – nada animadoras – do dia. Entre elas, uma me chamou atenção: 1 milhão de pessoas dão fim em suas próprias vidas, por ano, no mundo; segundo a Organização Mundial da Saúde. No Brasil, esse número é de 12 mil pessoas. Diante desses relatos, pensei na famosa obra Os Sofrimentos do Jovem Werther (1774), do escritor alemão Goethe.


O romance tem como protagonista Werther, jovem apaixonado por Charlotte, moça já comprometida com Albert. Através de cartas enviadas para seu amigo Wilhelm, Werther expressa sentimentos, diante de um amor impossível de ser vivido e realizado.  Possuído pela paixão e pela frustração latente, Werther despede-se de sua vida; suicidando-se com um tiro de pistola na cabeça. O livro é tenso, tétrico, dramático. É difícil não sentir o sofrimento de seu personagem principal.


No período em que foi publicada, a obra-prima de Goethe ocasionou uma série de suicídios na Europa. Estudiosos no assunto dizem que grupos de jovens, na época, vestiam coletes amarelos com detalhes azuis; fazendo referência ao traje utilizado, nos últimos momentos de vida, por Werther.


A morte como escapismo é uma das temáticas deste livro, primor da literatura romântica na Alemanha. E apesar de estarmos em pleno século XXI, a narrativa de Goethe continua sendo vigente.


Da ficção literária para a vida real, o suicídio faz parte da campanha Setembro Amarelo, cujo objetivo é de conscientizar a sociedade em relação a este tema de extrema importância. Ouvir um amigo, um aluno, um parente, ou qualquer pessoa que esteja vivenciando essa dor na alma, merece nossa devida atenção. Um desabafo, um abraço acolhedor, um aperto de mão, um diálogo franco e verdadeiro podem salvar vidas cansadas e desanimadas.


Esperamos que o laço de cor amarela seja nosso sinal de alerta, para olharmos quem está ao nosso lado com mais sensibilidade, empatia e coração. Afinal, há muitos Werthers espalhados pelo mundo – inclusive, perto de nós mesmos.

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