Por Meriam Lazaro
Na
calçada estava a pequena monarca. Pendia um pouco para o lado esquerdo.
Sem dar sinal de vida, foi suspensa por uma asa. Com isto se evitaria
que fosse pisoteada, além de um possível final feliz em cima do muro de
pedra. O final feliz, poderia não ser bem para a nossa personagem, pois
muros costumam ser escalados por gatos ou servir de pouso para pássaros
famintos. O toque dos dedos polegar e indicador na asa fininha causou o
bater fremente da asa livre. Na natureza não há movimento mais delicado
que o bater de asas de uma borboleta. Nem tudo estava perdido. Seguindo
sua peregrinação em busca de papéis para levar na toca do leão, a
andarilha entrou no Mercado Público para tomar um tradicional suco de
salada de frutas. Qual a surpresa? Uma exposição de orquídeas! Ficou
frente a frente com flores alvas, amarelas, pink. Havia um pé
com três delas em tom lilás como um abajur. Ela sorriu em meio às flores
como se fosse uma delas. Sentiu em sua alma que em outros tempos viveu
como uma singela labiata, protegida no alto de um caule na
floresta. Bons tempos, quando havia florestas e os leões não se
alimentavam de papéis. Alguém piedoso dirá: coitada, além de salvar
borboletas que não queriam ser salvas, ainda sorri com a certeza de ser
uma florzinha... Assim, se passou manhã e tarde daquele dia. À noite,
chegou a hora das preces. Nuvens mais próximas corriam livres no céu.
Acima delas, um chapéu cinza-chumbo, numa formação gigante de nuvens.
Pediu pela saúde de pessoas amigas. Rendeu graças pelo dia cansativo,
mas proveitoso que passara. Prestes a baixar a persiana da janela do
quarto, nuvens se abriram num instante e uma estrelinha brincalhona
piscou lá de cima desejando a todos uma boa noite. Assim seja!
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