Por
Rosimeire Soares
“Ano
novo, vida nova!” Frase comum nesta época do ano. Hoje, mesmo, enquanto
aguardava atendimento na fila de uma agência bancária, não pude me furtar ao
diálogo de dois professores. Eles iniciaram a conversa depois de gigantescas
felicitações, um para o outro, de ano novo.
Em seguida, como eu não era atendido com a eficiência temporal de que
gostaria, atentei que eles falavam de situações (boas ou nem tanto) por que
passam em suas profissões.
Ouvi
bem quando um dos professores (provavelmente de Filosofia) falou, mesmo em tom
informal, mas com bastante autoridade:
“Ano
novo, sim, mas vida nova é para poucos. Quem já parou para pensar que, em todo
momento, estamos renovando? A cada instante, materializado ou não por estalos filosófico-literários,
o indivíduo não é mais o mesmo. Quem já parou para pensar que fingimos o tempo
todo? Não falo do fingimento carregado de maldade e de intenção de ludibriar os
outros, falo do dinamismo que é o nosso acontecimento como ser humano. Vida é
movimento. Quando falamos algo do que vamos discordar dentro três dias, não
estamos mentindo, estamos executando o fingimento que é inerente ao indivíduo
constitutivamente de palavras, pois não se sabe quando deixará de concordar
consigo mesmo, mas precisa da consciência de que isso ocorrerá. As palavras
surgem e desaparecem tão rapidamente que às vezes nem conseguimos verificar o
que ficou delas. Algo é certo: fica a vida. Fazer uma vida nova significa,
inclusive, perceber que a novidade está a todo instante nos ocorrendo, mas que
precisamos ter olhos novos”.
Uma sonora campainha soou, anunciando a que
caixa da agência eu deveria me dirigir. Apressei-me. Que bom se soubéssemos que
para ter vida nova, precisamos também ter novos ouvidos.
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