Por Denise Fernandes
Acho que tenho o vício de responder à palavra “mãe”. Foram tantos anos ouvindo de forma insistente a palavra que às vezes ela surge fantasmagórica, alguém fala “mãe” lá longe e eu penso que é comigo, me dá saudades da Bia, minha filha mais velha ou do Lucas. Será que ser mãe pode ser considerado um vício? Às vezes, sinto que tenho síndrome de abstinência dos meus filhos.
Tenho também o vício de abraçar. Às vezes, abraço gente que nem conheço bem, só para ser simpática. Houve na minha vida um ex-marido meu que reclamava que eu era muito “dada”... porque abraçava muito... Mas é só um vício, não é tanta doação. É a insistência do amor, na forma do vício de abraçar. Certas pessoas ficaram e ficam sempre abraçadas comigo.
Outro vício é tomar café. Tem o açúcar também. E talvez chocolates possam ser considerados um vício à parte. Fui fumante também. E acho muito difícil ficar totalmente sem beber. Vício em ginástica nunca tive, nem consigo me imaginar pegando. Mas nunca se sabe. Porque tendência ao vício, eu tenho.
Claro que já fui viciada em chicletes. E em balas também, tanto de hortelã, como de goma, e mini-balas com vitamina C.
Uma das coisas boas da vida é ter outras pessoas para compartilhar vícios. E aí começa sempre uma ordem maior de pecados e é por isso que se diz que estamos aqui para nos aperfeiçoarmos espiritualmente.
Se a gente pode ser viciado em certos tipos de comida, também admito vício em coxinha, em pizza e em todo tipo de macarrão. Sou viciada em bolo também.
Talvez eu seja viciada em sexo, mas isso não significa encorajamento de qualquer forma para qualquer leitor ou leitora dessas palavras. O vício muitas vezes não estabelece a compulsividade ou a impulsividade, mas uma certa dependência que leva à transcendência. Tomara Deus seja assim.
Tenho o vício da saudade, o vício de olhar a tarde, desde menina tenho esse vício. A professora falava que não era bom para mim... sentar na janela; aí que eu me esforçava mais para ir bem na escola, me manter na janela, na posição implacável de poder olhar o pátio, vigiar a mangueira, ver as nuvens passando enquanto a professora tremia ausente e eu memorizava cada palavra do que ela falava. Tenho o vício das flores e da saudade das flores.
Já fui viciada em roer unhas e as peles em volta dos dedos. Não sei como, mas já roí a unha do pé. Faz muito tempo e eu não lembro muito bem como foi. Mas lembro que foi mais de uma vez. Aí eu percebi que estava ficando meio absurdo, fora de controle e que tinha que dar um jeito na situação. Se não fosse uma consciência mínima que habita em todos nós, seríamos absolutamente dominados pelos vícios. Pelo menos, eu sou assim. Viciada nos vícios.
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