quarta-feira, 12 de outubro de 2011

Ourives da Palavra

Por Fabio Ramos


Existirá tarefa mais intensa do que exprimir-se através da escrita? Nossos pensamentos abstratos ganham forma. Além disso, é constante o desafio de colocar em palavras o que sentimos. Um bilhete. Uma carta. Um desabafo recebido no correio eletrônico. Com apenas uma frase, implodimos amizades de longa data e amores eternos. Quem dera eu estivesse mentindo.

Já dizia Saint-Exupéry: “A linguagem é uma fonte de mal-entendidos”. Quando transposta para o papel, então, potencializa seu poder de fogo. O espaço em branco deve ser preenchido. Trata-se de uma experiência libertadora. Ao final do processo, talvez compreenderemos melhor a nós mesmos. Ou não. As consequências de tal ato – não raro perturbadoras – poderão, ainda, permanecer esquecidas numa gaveta (virando alimento para cupins e traças).

De onde vem a ânsia de escrever? Eis uma outra questão sem resposta. Garanto a todos que este desejo não partiu de mim. Será? Se isso for uma doença, há muito estou contaminado. Desde os primórdios da humanidade, inúmeros se aventuraram nesse caminho sem volta. As curvas sinuosas da estrada, femininas por excelência, seduzem e enfeitiçam; demandando fidelidade total. Tremendo comprometimento.

Ao redigir, aqui, minhas impressões, aceito o fardo em silêncio. Lapidador vulgar que sou, não passo de um mero ourives da palavra. Estas linhas terão significado para os demais? Serei capaz de me realizar enquanto desbravador do inconsciente? Aonde a persistência me levará? Oh, time will tell...   

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