Por Alex Constantino
Nada de dia do orgulho heterossexual ou orgulho gay. Que seja o dia da consciência e do orgulho pela existência da diversidade.
Nos últimos dias tem se discutido o polêmico projeto de lei (nº 294/2005), de autoria do vereador paulistano Carlos Apolinário (DEM), que foi aprovado pela Câmara de Vereadores. Por ele, caso seja sancionado pelo Prefeito, ficará instituído, no Município de São Paulo, o dia do orgulho heterossexual, que será comemorado, anualmente, no 3º (terceiro) domingo de dezembro de cada ano.
No art. 3º do referido projeto consta que: O Executivo envidará esforços no sentido de divulgar a data instituída por esta lei, objetivando conscientizar e estimular a população a resguardar a moral e os bons costumes (SIC).
Isso porque, em sua justificativa o vereador argumenta que não “concorda com a apologia ao homossexualismo (SIC)” e os homossexuais, “se dizendo discriminados ou perseguidos estão tentando aprovar leis que na realidade concedem a eles verdadeiros privilégios”.
Esse privilégio, que para ele os héteros sequer têm, seria a possibilidade de “dois bigodudos se beijarem num restaurante”, sendo que deveriam “deixar os beijos e afetos para os lugares reservados ou suas casas” (já que ele não fica beijando “excessivamente” sua esposa para demonstrar o carinho que tem por ela).
Por fim, propõe que, se oficialize a data como símbolo da luta pelo ORGULHO DE SER HOMEM E O ORGULHO DE SER MULHER. (?!)
Não bastasse ser absurda (per si) a argumentação do vereador, merece destaque o voto contrário e sensato da vereadora Soninha.
Ainda, conforme consta em notícia veiculada pela internet, para a Associação Brasileira de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (ABGLT) é "descabido propor a celebração do orgulho heterossexual de modo a desmerecer a luta social justa da população LGBT, que ocorre justamente para reafirmar a necessidade do enfrentamento da discriminação, agressão e violência comprovada às pessoas homossexuais".
Segundo ela, "os heterossexuais não são discriminados pelo simples fato de serem heterossexuais, ao contrário dos homossexuais, a exemplo dos casos recentes de violência homofóbica na Avenida Paulista tornados públicos pelos meios de comunicação (...). Os heterossexuais não são vítimas de agressões verbais e físicas, de violência, não são assassinados em virtude de sua orientação sexual"
Depois dessa grande (e talvez desnecessária introdução) de cunho informativo, a verdade é que, sem desmerecer a importância da luta real e necessária pela afirmação dos direitos das minorias, não sei se há uma lado certo nessa questão. E por questão, para não ser mal compreendido, estou me referindo à institucionalização de datas comemorativas de ideologias, gêneros, etnias ou qualquer outro tema que representa uma parcela da sociedade (seja a maioria ou minoria).
Isso porque, independentemente das justificativas que motivaram sua criação – muitas vezes louváveis, outras não – o único efeito concreto que estimulam é a segmentação da sociedade, porque reforçam a divisão dela em grupos que se preocupam somente em garantir os direitos de seus integrantes.
É como se quisesse afirmar que se tratam realmente de grupos diferentes e inconciliáveis que constantemente devem se digladiar para manter o equilíbrio de suas forças (direitos e deveres).
O problema aí, a meu ver, é que o foco está nas poucas (e muitas vezes ínfimas diferenças) quando deveria se concentrar nas várias semelhanças. Ao invés de um discurso umbiguista ou desagregador, porque não defender uma perspectiva unificadora?
Imaginemos o caso do dia da consciência negra. Em princípio, só os negros poderiam afirmar seu orgulho? E os brancos, poderiam criar um dia do orgulho branco? E se criassem, acho que podemos imaginar o problema que isso iria acarretar não é?
Todas essas são inciativas que afastam esses grupos quando realmente deveriam aproximá-los para que pudessem enxergar a verdade: não há grupos diferentes.
Assim, a luta pelos direito das minorias deveria ser travada por todos, e não só pelo grupo de interesse imediato, e seu objetivo deveria ser demonstrar que todos fazem parte de um grande, único e acolhedor grupo: o do respeito à diversidade. Eu, isoladamente, posso ser hetero, mas enquanto grupo faço parte daquele que abraça à diversidade sexual, onde cabe qualquer opção.
Não sou negro e muito menos quero um dia da consciência branca, porque o melhor seria um dia da consciência da diversidade: de etnias, opções sexual, gêneros, etc. Esse dia sim observa respeitosamente a dignidade da pessoa humana, conforme objetiva nossa Constituição, porque não impõe dogmaticamente um projeto de vida como válido, mas reconhece, estimula e celebra a multiplicidade de projetos de vida.
Assim, porque não fazer com que a luta de poucos, que algumas vezes acaba estigmatizando ainda mais esses grupos, seja a luta de todos? Minha modesta sugestão para isso: que tal o dia da consciência e do orgulho pela existência da diversidade?
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