segunda-feira, 9 de novembro de 2020

vírus

Por Ana Paula Perissé




há muito tempo passo nas mesmas ruas
e a convivência me traz desassossego
no movimento que não me pertence
nos vírus que me fazem ser
ou desfazer
entram e saem
sem eu saber
constituem minhas células
brigam com elas


e eu sou um emaranhado
deles
sendo o que sou
deixando de ser


os carros passam,
passam sem sermos
ou sendo
passam
da mesma maneira
grandes ou pesados
simples ou caros
a fumaça desconfigura
paisagens outrora familiares


entram e saem
deslocam
transformam
sem que se saiba
o ínfimo elo de vida
nas pequenas micro coisas
que nos fazem
perambular
na mesma cidade de sempre
ou quase.


até quando?
sou um amontoado independente de mim.

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