domingo, 22 de novembro de 2020

Seja qual flor

Por Oswaldo Antônio Begiato




A única coisa da terra que existe no céu é a música.
A única coisa do céu que existe na terra são as novidades.


Já se foi o tempo em que eu chegava da rua,
entrava em casa com as mãos cheias de cartas
e o coração vazio de razões.
Hoje entro com as mãos vazias de cartas
e o coração cheio de desesperanças.


Fazer o quê?
Quem nasceu com o pé redondo
tem que morrer com a boca verde.


Há na vida uma hora em que as pedras preciosas
tornam-se inúteis nos acostamentos do tempo.
(E pensar que já tive relógios com dezessete rubis).


Mas há sempre um tamanco de bom tamanho
para quem caminha a pé e sem muita fé
mas com muito amor para despedaçar por aí.


Queres que eu veja
com olhos isentos
tuas velhas veredas.


Verei.
Com calma, verei.
Com alma, verei.


Afinal é tão delicado ver passar mulheres
e seus vestidos rodados
e suas sandálias coloridas
e seus cabelos enfeitados com flores
e seus pensamentos nas asas do incompreensível.


O bom jardineiro sabe
que não se planta a haste de uma rosa
como se planta a haste da mandioca.


Bem, hoje vou me deitar cedo.
Amanhã preciso levantar cedo.
Já pensou se me amanheço com rugas
justo no dia em que as flores passarão por mim
no cabelo de Isabel?


Seja o que for,
Seja qual flor.

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