segunda-feira, 30 de novembro de 2020

pós-vida

Por Ana Paula Perissé




quero aprender a sonhar com o nada
agora
para quando minha hora chegar
saber que deixarei
as mudanças
revolvendo-se
sempre
e
em silêncio
dizíveis apenas em canto
como se a vida de todos os seres
tivessem um pós-vida
ecoando
a revirar a memória
de quem tocamos
de alguma forma.


não sei o quê escrever
diante da imensidão vazia
e oceânica
imprevísivel
da vida a quem dôo um sentido
errante
mutante


as centelhas me agitam
arrancam-me de mim
quentes e dolorosas ao toque
clamando por uma chance
de nomear
resquícios
sombras
quase-revelações
ínfimas
colectivas
de mim.


Não é nada
tentativa vã
e não me acalma
porque pestanejo diante
da pupila oscilante do mundo
nem mesmo voo
ou me rastejo
a implorar pelo cheiro da terra
úmida
que será meu manto
no instante final.



(Te amo, meu pai,
cuja pós-vida
entranha-se cade vez mais
naquilo que sou
de tua filha).

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